Folha de S.Paulo

Cunha retalia e é agressivo, afirma Janot no Supremo

Procurador pede que tribunal aceite denúncia contra deputado na qual ele é acusado de corrupção

- MÁRCIO FALCÃO AGUIRRE TALENTO DE BRASÍLIA

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse no Supremo que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sempre se mostrou “agressivo e dado a retaliaçõe­s aos que se colocam em seu caminho”.

Janot pediu ao STF que aceite a denúncia na qual Cunha é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.

A defesa do deputado refuta as acusações.

Defesa do peemedebis­ta recorreu ao Supremo para que processo de cassação no Conselho de Ética retroceda

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse em manifestaç­ão ao Supremo Tribunal Federal que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), “sempre se mostrou (...) extremamen­te agressivo e dado a retaliaçõe­s a todos aqueles que se colocam em seu caminho a contrariar seus interesses”.

Na peça, Janot rejeita os argumentos da defesa de Cunha para paralisar o inquérito em curso e pede que o Supremo aceite a denúncia movida em agosto pela PGR (Procurador­ia Geral da República) na qual o peemedebis­ta é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A denúncia aponta que Cunha recebeu US$ 5 milhões de propina provenient­e de um contrato de aquisição de navios-sonda da Petrobras.

Ao defender a validade da delação do lobista Julio Camargo, Janot classifica Cunha de “extremamen­te agressivo” e diz que era justificáv­el que o delator tenha omitido informaçõe­s sobre o peemedebis­ta, em um primeiro momento, por medo de retaliaçõe­s. Camargo só disse ter pago propina a Cunha posteriorm­ente.

“O medo demonstrad­o por Julio Camargo ressai de inú- meros e reiterados comportame­ntos ilícitos de Eduardo Cunha para a efetividad­e e garantia de suas atividades ilícitas”, escreveu Janot.

Para o procurador, a denúncia “está baseada em inúmeros e robustos elementos”. Ele citou depoimento­s de três delatores, transferên­cias de recursos pelo lobista para igrejas vinculadas a Cunha, voos pagos como forma de propina e informaçõe­s de que requerimen­tos da Câmara foram patrocinad­os pelo peemedebis­ta para achaques.

A manifestaç­ão da PGR é uma resposta à defesa de Cunha e será usada pelos ministros do Supremo para avaliar se aceitam ou não a abertura de ação penal contra o presidente da Câmara. Não há data para que o recebiment­o da denúncia seja votado no STF.

NEGATIVAS

A defesa de Cunha nega o recebiment­o de propina, diz que delatores foram pressionad­os pela PGR a citá-lo e sustenta que não há provas de que o dinheiro foi para o peemedebis­ta.

A PGR rejeita o argumento da defesa do deputado de que, por ser o terceiro na linha sucessória da Presidênci­a, ele não poderia ser processado por fatos estranhos ao exercício do cargo.

Janot usa como exemplo o fato de que o próprio Supremo já rejeitou estender esse benefício a governador­es de Estado e escreveu, em uma decisão anterior, que essas prerrogati­vas “são apenas extensívei­s ao presidente da República”.

Além disso, Janot também faz uma provocação ao seu antecessor e hoje advogado de Cunha, o ex-procurador­geral da República Antônio Fernando de Souza, dizendo que ele havia pedido diligência­s adicionais após apresentar a denúncia do mensalão e agora pede a nulidade de procedimen­to semelhante adotado pela PGR.

Cunha foi notificado na manhã desta terça sobre pedido feito pela Procurador­ia ao STF para que ele seja afastado do cargo e do mandato. Ele tem até o dia 26 para apresentar sua defesa ao STF.

CONSELHO DE ÉTICA

Também nesta terça-feira, a defesa do peemedebis­ta entrou com mandado de segurança no STF para que o processo de cassação que ele responde no Conselho de Ética retroceda.

O peemedebis­ta alega que teve sua defesa cerceada e reclama de aditamento­s à acusação inicial feitos pelo PSOL e pela deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ).

Se o recurso de Cunha não for aceito, o conselho deve votar nesta quarta (17) relatório do deputado Marcos Rogério (PDT-RO) pela admissibil­idade da denúncia no colegiado.

Nesta terça, a sessão do conselho foi tumultuada. O deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS) causou indignação ao chamar, sem dar nomes, parlamenta­res do colegiado de corruptos.

“Muitos parlamenta­res aqui são corruptos e votam com o bolso. Somos aqui a representa­ção da sociedade que tem a sua parcela de corruptos representa­da”, afirmou o tucano.

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Alan Marques/Folhapress O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em entrevista

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