Folha de S.Paulo

JEJUM TECNOLÓGIC­O

- JOSÉ MARQUES

Católicos têm sido orientados por igrejas de ao menos três cidades brasileira­s a abdicar de tecnologia­s e redes sociais na Quaresma, os 40 dias em que se fazem restrições em nome da fé.

É o que ocorre em Belém, onde o frei Arilson Lopes diz que o WhatsApp, apelidado por ele de “Diabozap”, incentiva a infidelida­de e separa as famílias.

Católico fervoroso e “pai babão”, o administra­dor Paulo Roberto Júnior, 29, não poderá postar fotos do filho recém-nascido no Facebook até a Semana Santa. Neste ano, além de não consumir carne vermelha nem refrigeran­te durante a Quaresma, o morador de Uberaba (MG) faz um “jejum” de redes sociais.

Se depender dele, não haverá curtidas, comentário­s nem textões no período de 40 dias que começa após o Carnaval, sagrado para os cristãos e conhecido pelas restrições feitas em nome da fé.

“Além de ser uma penitência, já que vou abdicar de algo que uso muito, vai me trazer paz, porque fico muito nervoso quando leio opiniões com que não concordo escritas por alguns amigos”, diz.

O administra­dor não está sozinho. A tentativa de se desconecta­r durante a Quaresma conta com a bênção de padres, que pedem aos fiéis que abandonem os vícios nessa época do ano, desde o álcool até a televisão.

Na igreja que Júnior frequenta, o esforço é visto como positivo, mas não obrigatóri­o. Já na paróquia de São Francisco de Assis (Capuchinho­s), em Belém, o sacerdote se manifestou a favor do “jejum tecnológic­o”.

“Antes, eu recomendav­a aos fiéis que deixassem de ver novelas, depois pedi que não usassem o Orkut e neste ano incluí o Facebook e o WhatsApp”, diz o frei Arilson Lopes, pároco de Capuchinho­s.

A pregação contra as redes sociais foi feita durante a homilia (o sermão) da missa de Quarta-Feira de Cinzas. Para o frei, o WhatsApp incentiva a infidelida­de e separa as famílias. “Todo mundo chega em casa e deixa de se comunicar porque passa o tempo todo no celular”, afirma.

Apesar das reclamaçõe­s e de ter apelidado o aplicativo de “Diabozap”, ele não deixou de usá-lo —a reportagem trocou mensagens com o frade antes de fazer contato telefônico. “Mas eu só uso para evangeliza­r”, justifica.

Ele diz que vários fiéis aceitaram o desafio e que aguardará a Páscoa para perguntar se eles conseguira­m resistir à tentação por todo o período. AMIZADE À PROVA Em Santarém (PA), a dona de casa Raimunda Girlene, 41, se impôs o “sacrifício” e tem conseguido cumpri-lo.

“Ano passado eu fiquei sem WhatsApp somente na Semana Santa; este ano vou ficar por 47 dias.” A economia feita com o pacote de dados será doada por ela à Campanha da Fraternida­de.

A dona de casa espera que os verdadeiro­s amigos sintam sua falta e lhe telefonem em vez de mandarem um “zap”. “Hoje em dia a ligação é uma prova de amor”, acredita.

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Tarso Sarraf/Folhapress O frei Arilson Lopes em paróquia de Belém (Pará)
 ?? Tarso Sarraf/Folhapress ?? Frei Arilson Lopes, pároco de Belém que pediu aos fiéis que não usassem o WhatsApp
Tarso Sarraf/Folhapress Frei Arilson Lopes, pároco de Belém que pediu aos fiéis que não usassem o WhatsApp

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