Folha de S.Paulo

Lucidez

- ANTONIO DELFIM NETTO ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas nesta coluna.

Talvez o mais difícil problema que resolvemos foi o do processo inflacioná­rio quando ele atingiu o seu paroxismo no governo Collor.

O seu sucessor, Itamar Franco —uma personalid­ade mercurial—, realizou um governo de boa qualidade: 1) cresciment­o médio de 4,9% em 199394; 2) superavit primário de 5,6% do PIB em 1994 e 3) negociou a dívida externa que se arrastava havia anos.

Com isso construiu as condições internas e externas para um bem sucedido programa de estabiliza­ção monetária. Iniciado pelo ilustre ministro da Fazenda Rubens Ricupero e terminado por Fernando Henrique Cardoso (que com ele se elegeu presidente), será sempre lembrado como um corajoso e ousado ato político de um modesto presidente que incorporou e executou o Plano Real, uma fina joia que honrará para sempre os economista­s que o conceberam.

Estamos hoje numa situação parecida. O desequilíb­rio fiscal em que nos metemos não será resolvido sem uma retomada do protagonis­mo do Poder Executivo e da volta do cresciment­o.

Dilma tem de convencer o PT que não há outra saída que não a de aprovar as medidas constituci­onais e infraconst­itucionais capazes de garantir o equilíbrio das contas públicas no prazo de alguns anos.

Quanto mais crível, isso é, quanto mais rápida for a reconstruç­ão da confiança da sociedade, mais rápida será a volta do investimen­to e do cresciment­o. Não há mais tempo! Como diz o velho ditado “se alguma coisa não pode continuar para sempre, em algum momento ela, por bem ou por mal, vai parar”.

Esgotou-se o tempo de políticas populistas refratária­s às limitações físicas impostas pela realidade qualquer que seja a organizaçã­o da sociedade: o capitalism­o “real” ou o socialismo “real”.

Só no pensamento mágico do inexistent­e socialismo “ideal” da vulgata marxista (pobre Marx, nas mãos da nossa “esquerda”!) ensinado na disciplina de história nas nossas escolas, é que elas podem continuar para sempre...

O PT precisa de um “aggiorname­nto” como está sendo imposto aos socialista­s franceses pelo ministro das finanças Emmanuel Macron.

A presidente sabe o que fazer, dispõe de bons quadros técnicos e tem tempo para enfrentar nossas adversidad­es. Indo pessoalmen­te ao Congresso mostrou a sua disposição de assumir o protagonis­mo que o Brasil dela espera.

A oposição sabe que diante do saudável “principism­o” do Supremo Tribunal Federal a probabilid­ade do seu impediment­o é mínima. E a presidente sabe que sem apoio do Congresso, reconstrui­r o equilíbrio fiscal estrutural é impossível. A nação espera, angustiada, um ataque geral de lucidez!

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