Imaginando o pior
SÃO PAULO - O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que há exagero em relação à zika. O alcaide provavelmente tem razão. Seres humanos não somos bons para lidar com novas ameaças. Nossa tendência é sempre pressupor o pior. Tal pessimismo inato tem justificativas evolutivas. As pessoas que erravam subestimando perigos não deixaram descendentes, já as que tendiam a superestimá-los viveram para tornar-se avós assustados.
É claro que seria preferível simplesmente não errar, fazendo uma avaliação realista sobre a magnitude da encrenca. O problema aqui é que sabemos muito pouco sobre o vírus. Nessas circunstâncias, o que de melhor podemos fazer é adotar uma abordagem bayesiana, que consiste em fazer as assunções que nos pareçam mais razoáveis sobre a moléstia e atualizá-las constantemente à luz das novas evidências que surgirem.
Nessa linha de raciocínio, nossa melhor aposta é a de que o vírus não se comporta de modo muito diver- so do de outros exemplares da mesma família, como o da dengue ou o da febre amarela. Assim, o principal mecanismo de transmissão deve ser mesmo o mosquito. Também parece razoável supor que quem já contraiu a doença desenvolva imunidade.
Em relação à gravidade, não é o caso ainda de descartar a avaliação inicial, de que se trata de uma moléstia branda e sem maiores consequências para a maioria das pessoas que a contraem. O problema é que, para uma proporção ainda incerta dos embriões a ela expostos, as repercussões tendem a ser catastróficas.
É nesse ponto que se acumulam mais dúvidas. Não sabemos se o vírus da zika é o único responsável pela síndrome fetal a ele associada ou se há cofatores. Não sabemos nem o tamanho da epidemia, o que permitiria estimar a proporção de grávidas afetadas e, assim, dimensionar um cenário realista. E, enquanto não tivermos um, nossas mentes continuarão imaginando o pior. helio@uol.com.br