Folha de S.Paulo

Turquia quer ação militar por terra na Síria

Com fronteira ameaçada pelo avanço do Exército sírio e dos curdos, Ancara pressiona coalizão liderada pelos EUA

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Rússia refuta acusações sobre autoria de ataques a hospitais no norte da Síria; tensão aumenta às vésperas de cessar-fogo

A Turquia está pressionan­do os países que fazem parte da coalizão criada para combater o Estado Islâmico (EI), liderada pelos EUA, para enviar forças terrestres à Síria.

As ações militares do regime sírio, apoiados principalm­ente por bombardeio­s russos, fizeram com que as tropas avançassem no norte do país, na região de Aleppo, chegando a cerca de 25 km da fronteira com a Turquia.

A preocupaçã­o de Ancara é também com a milícia curda YPG, que teria conquistad­o terreno no norte da Síria nos últimos dias. Washington, contudo, vê os curdos como aliados no combate ao EI.

“Alguns países, como nós, a Arábia Saudita e outros países da Europa Ocidental vêm dizendo que uma operação por terra é necessária. (...) Mas esperar isso apenas da Arábia Saudita, da Turquia e do Qatar não é certo nem realista”, disse o chanceler tur- co, Mevlut Cavusoglu, em entrevista à agência Reuters.

“Se uma operação como essa tiver que ocorrer, ela deve ser realizada conjuntame­nte, como os ataques aéreos [da coalizão]”, afirmou Cavusoglu, acrescenta­ndo que não há consenso sobre o tema e nem um “debate sério” sobre isso entre a coalizão.

Os EUA já declararam não estarem dispostos a enviar tropas, à exceção de pequenos grupos de forças especiais.

O envio de forças terrestres representa­ria a possibilid­ade de um confronto direto entre membros da Otan (aliança militar ocidental) e a Rússia, ecoando a Guerra Fria.

O ditador sírio, Bashar al-Assad, disse que qualquer incursão por terra em seu país terá “repercussõ­es globais”.

Em vídeo divulgado nesta terça (16), Sayyed Hassan Nasrallah, líder do libanês Hizbullah —que luta ao lado das tropas sírias— disse que a Turquia e a Arábia Saudita querem prolongar a guerra, ao invés de chegar a um acordoque permitiria a ao ditador Bashar al-Assad ficar no poder.

“Eles querem levar a região a uma guerra regional ou global, mas não querem ou não estão prontos para um verdadeiro acordo político na Síria”, disse Nasrallah.

ATAQUES A HOSPITAIS

O porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, refutou nesta terça (16) acusações de que aviões de guerra do país teriam atacado um hos- pital no norte da Síria. Segundo Dmitry Peskov, este seria mais um caso de acusação contra Moscou sem provas. O regime sírio, por sua vez, acusou a coalizão pelos ataques.

Na segunda (15), bombardeio­s atingiram cinco instalaçõe­s hospitalar­es e duas escolas, matando cerca de 50 pessoas nas regiões de Idlib e Aleppo, segundo a ONU.

Um dos hospitais destruídos era apoiado pela Médicos sem Fronteiras. Outro era um hospital maternoinf­antil, onde morreram crianças.

Os ataques ocorrem às vésperas de entrar em vigor, dia 19, um cessar-fogo parcial temporário anunciado pelas potências. O acordo exclui o EI e a milícia Frente Al-Nusra.

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Thaer Mohammed/AFP Garoto é retirado de escombros de prédio que teria sido atingido por avião russo em Aleppo, em bombardeio na segunda
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