Folha de S.Paulo

Encontrou o amor de sua vida nos Correios

- GUILHERME MAGALHÃES

Uma colherada de feijão brasileiro habitava os sonhos da grande maioria dos pracinhas da FEB (Força Expedicion­ária Brasileira) que estavam na Itália nos anos finais da 2ª Guerra (1939-1945).

O soldado Newton Cidade não era uma exceção. É que as porções de feijão em lata —do tipo americano— que os homens recebiam como ra- ção diária eram horríveis.

Graças às sucessivas reclamaçõe­s dele e de outros pracinhas, conseguira­m o tão sonhado feijão brasileiro —de terrível, já bastava o front.

Durante os 11 meses, entre setembro de 1944 e agosto de 1945, em que participou da campanha brasileira na Itália, Newton ocupou o posto de auxiliar de subtenente, com funções administra­tivas.

Como escrevia bem, era procurado pelos colegas pa- ra redigir cartas destinadas aos familiares no Brasil.

De volta ao Rio, onde morava desde 1939, o catarinens­e de Porto União retomou o trabalho de postalista na antiga sede dos Correios, na rua Primeiro de Março, no centro.

Na agência da estatal que ficava do outro lado da rua, conheceu Griselda, ela do administra­tivo. Casaram-se em 1953, e durante os 62 anos de união foram incontávei­s os bailes de bolero, as sessões de dança de salão e as idas ao cinema. Era querido por todos os vizinhos em Lins de Vasconcelo­s, na zona norte do Rio, onde morou por mais de cinco décadas. Com mais de 90 anos, seguia dirigindo e indo a pé até o hortifrúti do bairro vizinho Méier.

Morreu no dia 7, aos 97 anos, após complicaçõ­es decorrente­s de uma pneumonia. Deixa a mulher, a filha Leila, uma irmã e sobrinhos. coluna.obituario@grupofolha.com.br

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