Folha de S.Paulo

Morre Boutros-Ghali, ex-secretário da ONU

Egípcio que conduziu organismo durante crises em Ruanda e na Bósnia tinha 93 anos

- DIOGO BERCITO NO CAIRO

Boutros Boutros-Ghali, secretário-geral das Nações Unidas entre 1992 e 1996, morreu nesta terça (16) aos 93 anos. A causa da morte não foi esclarecid­a. O egípcio liderou a ONU em crise severa de fome na África, genocídio em Ruanda e conflito na Bósnia. Pelo temperamen­to, foi criticado por ser pouco diplomátic­o.

O diplomata egípcio Boutros Boutros-Ghali, que foi secretário-geral da ONU entre 1992 e 1996, morreu nesta terça (16) no Cairo aos 93 anos.

A causa de sua morte não estava clara até a conclusão desta edição —dias antes ele havia sido hospitaliz­ado com uma fratura na perna.

Imediatame­nte após o anúncio da morte, o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, divulgou nota elogiando a contribuiç­ão do egípcio ao organismo e descrevend­o-o como alguém que “mostrou coragem” em um período turbulento.

Primeiro africano a comandar a ONU, Boutros-Ghali assumiu o posto sob grandes expectativ­as após o fim da União Soviética. Mas os anos de sua liderança coincidira­m com tragédias internacio­nais que se colaram ao seu nome.

Ele foi secretário-geral durante uma severa crise de fome na África e o genocídio em Ruanda, além do conflito na antiga Iugoslávia. No período, ficou também conhecido pelos embates com os EUA.

O diplomata foi acusado por alguns pelo fracasso em impedir o massacre da população em Ruanda e criticado por não pressionar o bastante por uma intervençã­o na guerra civil angolana.

Ele era descrito como pouco diplomátic­o e de temperamen­to orgulhoso. Sobre a Bósnia, por exemplo, afirmou que havia “outros lugares com mais mortos”.

Diante de protestos, em diversas ocasiões se dirigiu às multidões para debater, dizendo-se acostumado a lidar com extremista­s em seu país.

REESTRUTUR AÇÃO

Neto de um ex-premiê egípcio assassinad­o, Boutros-Ghali nasceu em uma família cristã copta no Cairo em novembro de 1922. Formado pela Universida­de do Cairo, onde lecionaria direito internacio­nal, tinha doutorado pela Universida­de de Paris.

Entre suas qualidades, repetidas durante o dia após sua morte, estava a sua habilidade de movimentar-se em diferentes universos. A nacionalid­ade egípcia lhe permitia transitar entre árabes e africanos, por exemplo.

Ele também foi responsá- vel pela reestrutur­ação da ONU, à época enfrentand­o problemas financeiro­s e entraves burocrátic­os, e organizou campanhas de arrecadaçã­o de fundos contra a fome na Somália, uma de suas ações mais memoráveis.

Será lembrado também pelo trabalho como chanceler egípcio. O diplomata serviu sob os governos dos presidente­s Anwar Sadat (1970-1981), a quem acompanhou na visita histórica a Jerusalém, que levou à paz com Israel, e Hosni Mubarak, deposto em 2011 após quase 30 anos no poder.

Boutros-Ghali foi o único secretário-geral da ONU que não se reelegeu. Além das críticas à sua gestão, ele enfrentou pressão dos EUA contra seu nome. Foi sucedido por Kofi Annan (1996-2006).

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Jean-Pierre Muller-17.nov.2011/AFP O egípcio Boutros Boutros-Ghali não se reelegeu na ONU

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