Folha de S.Paulo

Tivesse feito só sua obra-prima, Person já mereceria lugar de destaque no Brasil

- SÉRGIO ALPENDRE

Tivesse realizado apenas “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965), o diretor e roteirista paulistano Luiz Sergio Person (1936-1976) já mereceria um lugar de destaque no cinema brasileiro.

Nessa obra-prima flagrantem­ente moderna, Carlos (Walmor Chagas) é um homem em crise numa cidade cada vez mais desumana.

Seu casamento com Luciana (Eva Wilma) não está bem. Já no começo, eles brigam se- riamente. Logo depois, há um breve diálogo em que ela implora sua volta ao apartament­o, e ele responde na rua, num jogo poético em que ambos se ouvem, apesar da distância.

No trabalho, Carlos percebe que o chefe (Otelo Zeloni) é um oportunist­a. Sente-se uma peça da terrível engrenagem que comanda a sociedade.

Person fez cinco longas e três curtas, e cada filme tinha estilo diferente. Como “O Caso dos Irmãos Naves” (1967), roteirizad­o por ele e Jean-Claude Bernardet, sobre dois irmãos (Juca de Oli- veira e Raul Cortez) injustamen­te perseguido­s, torturados e assassinad­os pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.

Dez anos antes, filmou um para o comediante Ronald Golias. Rebatizado “Um Marido Barra Limpa”, o longa teve cenas adicionais realizadas por Renato Grecchi e foi lançado somente em 1967, sem créditos para Person, que reconhecid­amente é o seu diretor.

Em 1968, sua carreira derrapa. O episódio de “Trilogia do Terror” não é grande coisa, apesar de estar longe do desprezíve­l, e o longa “Pan- ca de Valente” é uma tentativa malsucedid­a de misturar comédia com faroeste, retomando o espírito das produções da Atlântida.

Quatro anos depois, realiza o controvers­o e injustiçad­o “Cassy Jones, o Magnífico Sedutor”, em que Paulo José interpreta o personagem do título com enorme talento.

O filme entrou no rol das pornochanc­hadas e foi vítima do mesmo preconceit­o que as rebaixou a notas de rodapé na história do cinema brasileiro. Pura injustiça.

Person se firmava como diretor de teatro quando morreu num acidente automobilí­stico. Sua história é contada de maneira poética no belo longa “Person” (2006), dirigido por sua filha Marina.

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