Tivesse feito só sua obra-prima, Person já mereceria lugar de destaque no Brasil
Tivesse realizado apenas “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965), o diretor e roteirista paulistano Luiz Sergio Person (1936-1976) já mereceria um lugar de destaque no cinema brasileiro.
Nessa obra-prima flagrantemente moderna, Carlos (Walmor Chagas) é um homem em crise numa cidade cada vez mais desumana.
Seu casamento com Luciana (Eva Wilma) não está bem. Já no começo, eles brigam se- riamente. Logo depois, há um breve diálogo em que ela implora sua volta ao apartamento, e ele responde na rua, num jogo poético em que ambos se ouvem, apesar da distância.
No trabalho, Carlos percebe que o chefe (Otelo Zeloni) é um oportunista. Sente-se uma peça da terrível engrenagem que comanda a sociedade.
Person fez cinco longas e três curtas, e cada filme tinha estilo diferente. Como “O Caso dos Irmãos Naves” (1967), roteirizado por ele e Jean-Claude Bernardet, sobre dois irmãos (Juca de Oli- veira e Raul Cortez) injustamente perseguidos, torturados e assassinados pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Dez anos antes, filmou um para o comediante Ronald Golias. Rebatizado “Um Marido Barra Limpa”, o longa teve cenas adicionais realizadas por Renato Grecchi e foi lançado somente em 1967, sem créditos para Person, que reconhecidamente é o seu diretor.
Em 1968, sua carreira derrapa. O episódio de “Trilogia do Terror” não é grande coisa, apesar de estar longe do desprezível, e o longa “Pan- ca de Valente” é uma tentativa malsucedida de misturar comédia com faroeste, retomando o espírito das produções da Atlântida.
Quatro anos depois, realiza o controverso e injustiçado “Cassy Jones, o Magnífico Sedutor”, em que Paulo José interpreta o personagem do título com enorme talento.
O filme entrou no rol das pornochanchadas e foi vítima do mesmo preconceito que as rebaixou a notas de rodapé na história do cinema brasileiro. Pura injustiça.
Person se firmava como diretor de teatro quando morreu num acidente automobilístico. Sua história é contada de maneira poética no belo longa “Person” (2006), dirigido por sua filha Marina.