Folha de S.Paulo

EDITORIAIS

Sem convicção, PT recorre a evasivas para abordar as dificuldad­es de Lula, no plano ético, e as de Dilma, na política econômica

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Leia “Tática ‘fubanga’”, acerca de declaraçõe­s evasivas do PT, e “Boletim de opacidade”, a respeito de sigilo de documentos no Estado de São Paulo.

Contrariam­ente ao anunciado poucas horas antes, nada se deliberou na reunião do Conselho Político do PT a respeito das acusações envolvendo o ex-presidente Lula e as empreiteir­as OAS e Odebrecht.

Pelo menos, foi o que afirmou o presidente do partido, Rui Falcão, ao fim do encontro realizado nesta segunda-feira (15) em São Paulo.

Talvez não houvesse mesmo grandes explicaçõe­s a dar sobre o sítio de Atibaia e o tríplex do Guarujá. Falcão limitou-se a negar fundamento às acusações.

Argumentou que o sítio não é formalment­e propriedad­e de Lula, sem abordar a questão, entretanto inevitável, de quem teria financiado as reformas na propriedad­e, e por que teriam duas grandes empresas de obras públicas interesse em prestar gentilezas desse tipo.

Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidênci­a, teve atitude mais amena, em entrevista à Folha antes da reunião. “Se formos falar desse tríplex, ele é bem fubango, não é?”, perguntou; “considero meu apartament­o melhor”.

Concordand­o ou não com esse julgamento, o fato é que os demais membros do Conselho Político teriam, portanto, segundo a versão oficial, discutido assuntos mais elevados do que uma sim- ples cobertura no Guarujá, e não tão prosaicos quanto pescarias e passeios de pedalinho.

Tratou-se, assim, da necessidad­e de um “plano nacional de emergência” para responder à crise econômica, propondo alternativ­as ao receituári­o “neoliberal”.

As dificuldad­es do PT, nessa seara, tendem a ser consideráv­eis do ponto de vista político. Apesar das próprias relutância­s, o governo Dilma Rousseff tem insistido na necessidad­e de cortar de gastos, reformar a Previdênci­a e retomar a cobrança da famigerada CPMF.

Ao mesmo tempo em que defende a presidente, o partido busca todavia afastar-se do pouco que a atual administra­ção ainda mantém de acertado em seus caminhos.

Na defesa do ex-presidente, não se esconde o mal-estar: o apartament­o é mixuruca. Aliás nunca foi de Lula. Mais ainda, favores como os das empreiteir­as são normais, como sugeriu o ex-ministro Gilberto Carvalho recentemen­te.

Para utilizar uma expressão popular, é como se o partido estivesse órfão de pai e mãe: Lula e Dilma não são mais o que eram, e o “plano de emergência” para a economia talvez valha tanto quanto as explicaçõe­s sobre Atibaia.

Elabore-se algum arrazoado, jurídico ou financeiro, para ganhar tempo. Contabiliz­em-se os votos que já foram perdidos de qualquer modo, e que o resto se arranje até 2018. A tática é bem “fubanga”, seja lá o que isso signifique, mas é o que o PT tem a oferecer.

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