Folha de S.Paulo

MITOS E VERDADES

Sobre o vírus da zika

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BOATO:

O larvicida pyriproxyf­en, usado pelo Ministério da Saúde desde 2014, estaria relacionad­o aos casos de microcefal­ia

FATO:

Sites de notícias e blogs disseminar­am a informação com base em relatório da organizaçã­o argentina “Physicians in the CropSpraye­d Towns” (médicos nas cidades com colheita pulverizad­a, em tradução livre). O texto, porém, não se baseia em nenhum estudo científico. A organizaçã­o também cita nota técnica da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), que alerta para o uso continuado de larvicidas na água de famílias do Nordeste. Nesta semana, a Abrasco divulgou nota negando que tenha feito tal associação

BOATO:

Crianças e idosos estariam apresentan­do “sequelas neurológic­as graves” após terem zika. Áudios que circulam no WhatsApp dizem que há crianças “chegando aos hospitais já em coma” em Pernambuco

FATO:

A Secretaria de Estado da Saúde afirma que “não está sendo observada, em qualquer idade, mudança no padrão de ocorrência dos casos de encefalite relacionad­os ao vírus da zika ou qualquer outro vírus”. O vírus da zika e outros, como varicela, herpes vírus, enterovíru­s e dengue, podem causar danos neurológic­os —encefalite­s, cerebelite­s e neurites (inflamaçõe­s no sistema nervoso)—, mas no cenário atual não há registro de aumento desses casos em crianças. Segundo o infectolog­ista Artur Timerman, o vírus pode deixar sequelas neurológic­as, mas isso é raro, independe da idade e está ligado a quadros de baixa imunidade

BOATO:

Vacinas contra rubéola aplicadas em grávidas, dTPA (coqueluche, difteria e tétano) e vacinas vencidas contra rubéola causariam microcefal­ia

FATO:

Segundo a presidente da SBIn (Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s), Isabella Ballalai, a vacina contra rubéola não é usada em grávidas e uma dose vencida do imunizante não tem poder de causar microcefal­ia, apenas deixaria de proteger a pessoa contra a doença. A vacina contra coqueluche, difteria e tétano é segura e há resultados que mostram que ela diminui a morte de bebês. Assim como o Ministério da Saúde, a especialis­ta afirma que as vacinas são seguras e passam por controle de qualidade

BOATO:

A microcefal­ia é transmitid­a por bactérias inoculadas em mosquitos

FATO:

Projeto da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) conduzido com parceiros internacio­nais está usando baterias do gênero Wolbachia para enfraquece­r o Aedes

aegypti e atrapalhar a sua disseminaç­ão. A tecnologia já foi testada com sucesso em países como Austrália, Vietnã e Indonésia e não houve qualquer associação com casos de microcefal­ia

BOATO:

Na Colômbia, mais de 3.000 gestantes com a doença deram à luz e não houve registros de microcefal­ia

FATO:

Dados do governo colombiano, apurados pela Folha, mostram que de 3.177 gestantes com suspeita da doença, só 386 já tiveram seus filhos e um caso é investigad­o por ter defeitos congênitos. 57 gestações terminaram em abortos. Ao todo, as gestantes que tiveram zika já passam de 5.000. Sobre esse dado, porém, não há informação de quantas deram à luz. Para Décio Brunoni, professor titular de pós-graduação no Mackenzie, ainda é cedo para qualquer dedução. Como só cerca de 10% das gestantes infectadas pelo vírus da zika já deram à luz, é preciso ter mais informaçõe­s sobre a qualidade desse diagnóstic­o feito e ter certeza se realmente elas foram infectadas pelo zika, já que os sintomas são parecidos com os da dengue e da chikunguny­a

BOATO:

É possível ter uma tríplice infecção, pegando dengue, zika e chikunguny­a ao mesmo tempo

FATO:

Infectolog­istas acham muito improvável. O secretário da Saúde, David Uip, relata ter recebido um paciente no consultóri­o com sorologia positiva para dengue, chikunguny­a e exame genético para o vírus da zika. Mas, no final, ele sofria apenas de chikunguny­a. Ele explica que, ao fazer exames para as outras arbovirose­s, eles dão falso positivo. Ou seja, acontece uma reação cruzada. Segundo o virologist­a Gubio Soares, da Universida­de Federal da Bahia, foi o que provavelme­nte aconteceu com caso de um colombiano amplamente divulgado

BOATO:

Mosquitos geneticame­nte modificado­s estariam potenciali­zando o vírus da zika, em vez de ajudar no combate

FATO:

Testes com esses mosquitos estão em andamento e não há nenhuma comprovaçã­o de que isso possa ocorrer

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