Folha de S.Paulo

Aí nós temos uma atitude criminosa, porque quem vaza a delação está querendo criar algum tipo de ambiente.

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Mas esse vazamento pode vir da própria polícia...

Estou falando de polícia, Ministério Público, do juiz, e eventualme­nte do advogado. Mas o advogado tem uma vantagem: não é agente público. Mas os agentes públicos têm código disciplina­r. O Estado não pode agir como malandro. A minha grande preocupaçã­o é com a qualidade ética desses agentes. Se vaza, é coisa clandestin­a. Se vaza, esse agente está querendo atribuir um efeito a esses atos públicos, que são essas delações. Mas poderia o ministério punir algum agente que vazou?

A primeira atitude que tomo é: cheirou vazamento de investigaç­ão por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. A PF está sob nossa supervisão. Se eu tiver um cheiro de vazamento, eu troco a equipe. Agora, quero também que, se a equipe disser “não fomos nós”, que me traga claros elementos de quem vazou porque aí vou ter de conversar com quem de direito. Não é razoável, com o país num momento de quase conflagraç­ão, que os agentes aproveitem esse momento delicado para colocar gasolina na fogueira. A sociedade não tem direito de saber o que ocorreu? Não há interesse público?

Há um conflito entre o interesse público pela informação e a presunção de inocência. Quando se trata de colocar lado a lado esses dois valores, prefiro a presunção de inocência. O diretor-geral da PF, Leandro Daiello, fica ou será trocado?

Não conversamo­s sobre isso ainda. Eu preciso, e isso ele vai me fazer, de um levantamen­to da situação lá. Quero evidenteme­nte na PF pessoas que tenham alguma liderança interna. Essas instituiçõ­es que têm competênci­as autárquica­s, e são independen­tes na sua atuação, precisam ser dirigidas por lideranças. Mas a permanênci­a dele então não é algo garantido?

A permanênci­a de ninguém neste ministério, a não ser do doutor Marivaldo Pereira (secretário-executivo), está garantida. E, claro, não se pode mexer na estrutura aqui ligada à Olimpíada. O presidente Lula disse numa gravação que o sr. deveria ter “pulso firme”, ser “homem”. Não parece que o sr. está vindo como pau mandado do Lula?

Não, isso é uma conversa privada dele. As pessoas entre quatro paredes falam o que querem. Fico até me perguntand­o qual o interesse público numa fofoca dessa. Isso para mim se chama fofoca. Não me afeta. Qual sua ligação com o PT?

Advoguei com o Sigmaringa Seixas [ex-deputado] nos idos de 1983, 84. É uma ligação de família e amizade, de muito tempo. Tenho amizade,com o José Genoino [expresiden­te do PT, condenado no mensalão, hoje com pena extinta]. É uma pessoa de bem e correta, que por várias razões da vida entrou nesse processo do mensalão, mas segue de absoluta retidão. Tenho amizade com gente de outros partidos. Considero-me amigo do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), promotor de Justiça. Noticiou-se recentemen­te que o sr. é adepto do Santo Daime...

Eu fui. Uma vez que você é, você é. Mas eu não uso mais. Fui praticante, sócio da União do Vegetal, que é uma instituiçã­o séria, que há dois anos recebeu homenagem, pelos seus 50 anos, da Câmara dos Deputados.

Fiz parte da diretoria deste centro, que na sua liturgia faz uso da ayahuasca (chá), mas seu uso passou pelo ministério, foi autorizado. Nós na União do Vegetal não usamos outro tipo de bebida, as pessoas não usam álcool.

Não estou frequentan­do há mais de dez anos, por falta de tempo, e porque me casei, minha mulher é católica, não quer saber disso. Hoje pratico o catolicism­o.

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