GOVERNO SITIADO ‘A presidente não gosta do Congresso’, afirma relator
Para Jovair Arantes, Dilma se sente ‘acima da lei’ por ter mantido pedaladas
Autor de parecer diz que texto pró-impeachment se concentrou em fatos de 2015 para evitar ‘judicialização’
O relator da comissão de impeachment na Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO), afirmou à Folha que Dilma Rousseff “não gosta do Congresso” e atribuiu parte da atual crise ao “pouco caso” que ela teria dado aos parlamentares.
Segundo Jovair, a presidente e sua equipe “se sentem acima da lei” por terem mantido pedaladas fiscais em 2015 mesmo após críticas e advertências feitas em 2014. A seguir, trechos da entrevista. Folha - Por que o sr. concentrou seu voto nos fatos de 2015?
Jovair Arantes - Para não dar oportunidade de o governo judicializar o processo. É de domínio público que houve malversação gigante em 2014, mascarando um quadro para a sociedade em momento eleitoral. Acontece que, mesmo com esse problema enorme, o governo continuou fazendo em 2015. Então é aquela velha história que se fala no sertão: ‘O governo tem coragem de mamar em onça parida’. Porque quem foi alertado que não pode, que está cometendo um crime, e continua cometendo, é porque não tem medo, está acima da lei. O sr. acha que a presidente está ou se sente acima da lei?
Pelo menos ela demonstrou que se sente, ela e toda sua equipe se apresentam dessa forma à sociedade. Eles não demonstraram pudor ou medo, continuaram fazendo, cometendo as pedaladas e os crimes de responsabilidade. O que eu afirmei muito no meu relatório foi a questão de usurpar a questão do Poder Legislativo. E é esse o termo. Até que ponto a presidente tem participação pessoal nesses atos?
Bom, eu não digo pessoal. Mas se minha equipe faz qualquer coisa, eu tenho que responder por isso. A presidente comanda um país, determina o caminho que o país vai seguir do ponto de vista orçamentário, fiscal. Você vê presidentes levando países para o buraco porque tomam decisões erradas. O Congresso é guardião disso.
Se ela quer fazer diferente do que foi aprovado, tem que pedir. E o Congresso tem que aprovar. Simples. O contrário é coisa de governo totalitário, que não quer saber dos outros. A presidente Dilma não gosta do Congresso, não tem afeto pelo Congresso. Que provas há no processo que caracterizam a participação de Dilma no que o sr. chama de usurpação do Congresso?
A edição dos decretos sem autorização legislativa. E depois ela continuou cometendo o crime. É bárbaro isso, não pode continuar assim. O sr. mencionou que a presidente ‘não gosta do Congresso’. Por que razão?
Você vê outros países e outros presidentes que passaram pelo Brasil. Eles têm relação próxima, conversam amigavelmente, pegam sugestão de deputados. O governo tem que ouvir o Congresso, consultar o Congresso. E a presidente Dilma não está fazendo isso?