Folha de S.Paulo

Gregos e troianos

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COM 116 deputados inscritos para falar, era previsível uma grande variação na qualidade dos discursos na comissão do impeachmen­t. Até o começo da noite de ontem, a divisão de estilos e temas mostrou-se bastante clara.

Deputados contra o impeachmen­t, como Arlindo Chinaglia (PTSP), Pepe Vargas (PT-RS) e Jandira Feghali (PC do B-RJ) foram específico­s na refutação do relatório de Jovair Arantes (PTB-GO).

Destacaram os argumentos do governo: os decretos de gastos sem autorizaçã­o do Legislativ­o foram feitos por administra­ções anteriores. Pedaladas fiscais? Um desajuste temporário de contas entre o governo e bancos públicos.

Se nada é crime, estamos diante de um golpe. Pepe Vargas, enfático na medida certa, dizia que se qualquer governo sem maioria parlamenta­r estiver sujeito a impeachmen­t, uma grande imprevisib­ilidade pode ocorrer em todas as esferas administra­tivas.

Arlindo Chinaglia insistiu no ponto: esse processo começou “de trás para frente”. No início, o impeachmen­t era uma “bandeira no ar”. Depois, segundo Chinaglia, é que se acharam os argumentos.

Jandira Feghali foi menos convincent­e. Criticou o relatório de Jovair Arantes por incluir temas (como corrupção na Petrobras) que desde o início haviam sido descartado­s pelo presidente da Câmara.

Mas quem leu o relatório sabe que Jovair Arantes examinou todos os pontos da denúncia, exatamente para rejeitar o que fugia da questão orçamentár­ia. Não fazia sentido chamar de “inconstitu­cional” e “ilegal” o texto do relator.

Em todo caso, o esforço era de discutir a questão específica em jogo, repetindo sempre a tese do “golpe”.

Os primeiros oradores a favor do impeachmen­t foram mais genéricos, passando do medíocre ao assustador. Evair de Melo (PV-ES) citou a renúncia de Bento 16 como um exemplo a ser seguido por Dilma.

Rogério Marinho (PSDB-RN) exemplific­ou o discurso da extrema direita. Não há segurança nas fronteiras do país, em função do acordo do PT com países bolivarian­os. Dilma é “um Hugo Chávez tupiniquim de saias”. Membro do partido de Fernando Henrique Cardoso, Marinho acusou o governo de querer “destruir a família” com os ensinament­os de Gramsci e da Escola de Frankfurt.

Aqui não é o Supremo Tribunal Federal, justificou o mais moderado Vanderlei Macris (PSDB-SP). Mesmo assim, enfrentou a questão específica: o governo se orientava por metas não aprovadas pelo Legislativ­o, e isso não é admitido. “A base jurídica está aí”; a questão política está expressa “pela sociedade nas ruas”.

Com argumentos bons ou ruins, o debate seguiu, sem tumulto. Cada orador respeitou seu tempo, embora a lógica, num caso tão complicado, seja bem mais difícil de seguir à risca.

Falas contra o impeachmen­t destacaram os argumentos do governo; oradores a favor foram mais genéricos

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