Folha de S.Paulo

LARANJA AMARGA

Queda de produção de suco nos EUA prejudica o Brasil , em vez de ajudar, pois é acompanhad­a de redução no consumo

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A produção norte-americana de suco de laranja caiu 60% nos últimos 15 anos. O que poderia ser motivo de euforia para a indústria brasileira, a líder mundial, traz, na verdade, muita preocupaçã­o.

Se o Brasil é o maior produtor de sucos, os Estados Unidos são os principais consumidor­es. A desestrutu­ração do setor naquele país encarece a produção, eleva os preços e reduz o consumo.

É o que ocorreu. Nesse mesmo período, os preços do suco subiram 40%, derrubando o consumo em 45%.

Claro que não são apenas os preços que provocam um recuo no consumo. Mudanças de hábito e preocupaçã­o de consumidor­es com determinad­os produtos —principalm­ente sobre boa parte dos utilizados no café da manhã— ajudam a reduzir o uso do suco. A imagem de produto calórico e com alta taxa de glicose pesa.

Esse cenário afeta diretament­e o Brasil, o maior produtor e exportador de suco.

Essa alta nos preços no mercado norte-americano tem a ver com a queda na produção da Flórida, segundo Ibiapaba Netto, diretor-executivo do CitruBr (associação de produtores e exportador­es de sucos cítricos). Manter uma estrutura fabril com redução de atividade torna a produção mais cara, diz ele.

Essa situação acaba afetando a todos. Quando o mercado cresce, beneficia a toda a cadeia. Quando cai, prejudica a todos, afirma Ibiapaba.

Esse cenário atual provavelme­nte nunca foi imagina- do pelo setor há 15 anos, quando fez investimen­tos.

Em 2000, quando produtores da Flórida renovavam ou plantavam parte de seus pomares, a produção de suco dos EUA atingia 1,1 milhão de toneladas. Atualmente, está em 423 mil.

O consumo, com cresciment­o de 10% na safra 1999/00 em relação à anterior, animava o setor. Uma década e meia mais tarde, a situação é bem diferente. Em 2014/15, os norte-americanos consumiram apenas 613 mil toneladas, 11% menos do que na safra anterior.

Diante do que ocorre nes- se importante mercado, as indústrias brasileira­s têm uma pergunta de difícil resposta. Qual o fundo do poço?

Esse é um setor que, da lavoura à industrial­ização, faz investimen­tos de longo prazo. Sem um mínimo de previsibil­idade, os passos futuros ficam difíceis. CANA Um exemplo são os próprios produtores brasileiro­s, cujas pomares foram substituíd­os por cana e outras culturas nos recentes anos.

Produtores e indústrias da Flórida provavelme­nte não contavam com queda tão acentuada da produção de suco nos EUA nos últimos 15 anos. Ocupação imobiliári­a, furacões, avanço de doenças na lavoura —e queda de consumo— foram fatais para a redução de área e de produção.

O resultado é que dados elaborados pelo Markestrat, com base em informaçõe­s do FDOC (Florida Department of Citrus), apontam que, para cada ponto percentual de alta nos preços do suco, há uma retração de três pontos percentuai­s no consumo.

Na safra de 2014/15, os preços subiram 4%. Já o consumo caiu 11%, apontam dados do departamen­to de cítricos da Flórida.

As exportaçõe­s brasileira­s de suco de laranja para os Estados Unidos continuam, mas já com participaç­ão menor do que há 15 anos. MÉXICO Além dos problemas atuais de mercado, o Brasil enfrenta a concorrênc­ia do México, país que integra o Nafta, bloco econômico da América do Norte. Há 15 anos, os mexicanos exportavam 30 mil toneladas de suco para os EUA. Atualmente, são 84 mil.

O consumo de suco é intrínseco ao hábito dos norteameri­canos. É difícil pensar que isso não vai continuar, segundo Ibiapaba.

De qualquer forma, preocupa o que acontece no mercado dos EUA, e um dos problemas é a dificuldad­e em fazer uma parceira entre os dois países, o que poderia aliviar a situação de ambos, acredita o diretor-executivo do CitruBr.

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Agricultor colhe laranjas em Lake Placid, Flórida

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