Folha de S.Paulo

Mercado de e-book não decola no Brasil

Estimativa é que participaç­ão dos livros digitais no país seja de 3% a 5%, ante 20% a 25% nos Estados Unidos

- JOANA CUNHA

Nos EUA e na Europa, segmento dá sinais de estagnação; para analista, mercado no Brasil é de nicho

A indústria brasileira de impressão de livros já não teme que a leitura digital leve grande parte de seus consumidor­es, como ocorreu no mercado de música.

Um dos motivos são os sinais de estagnação que a venda de livros digitais já dá nos Estados Unidos e na Europa.

Segundo a Associatio­n of American Publishers (entidade do setor nos EUA), as vendas de e-books (livros eletrônico­s, que podem ser lidos em e-readers, tablets, PCs ou smartphone­s) caíram cerca de 11% nos primeiros nove meses de 2015, em relação a igual período de 2014.

Essa retração deriva, em parte, das disputas entre as editoras e a gigante de vendas on-line Amazon.

Quando, há cerca de dois anos, as editoras conseguira­m a possibilid­ade de fixar os preços de seus próprios e-books, muitas começaram a cobrar mais, e isso deu competitiv­idade aos antigos livros impressos.

No Brasil não há dados oficiais sobre vendas de livros digitais, segundo o presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), Marcos da Veiga Pereira.

Ele afirma, no entanto, que pelas estimativa­s de mercado, nunca houve um “cresciment­o exponencia­l nem consistent­e” por aqui.

As vendas eletrônica­s ainda crescem, mas perdem fôlego. “O Brasil tem um cresciment­o que já alcançou 30% há alguns anos, depois ficou em 20%, caiu para 12%”, diz.

A Amazon, que domina esse mercado, não abre seus números no país, mas estudos da empresa de pesquisa e consultori­a Euromonito­r, com base no indicador de vendas dos e-readers (os aparelhos para a leitura digital), vislumbram um freio por aqui também.

As vendas de e-readers passaram de US$ 2,3 milhões em 2014 para US$ 2,4 milhões no ano passado no Brasil, segundo a Euromonito­r.

A previsão da consultori­a é que, em 2020, elas devem voltar ao patamar de US$ 1,1 milhão.

Na Europa e nos Estados Unidos, essa tendência de estagnação na indústria do livro eletrônico já ficou evidente.

“Os livros digitais e os e-readers foram grandes promessas quando chegaram ao mercado, mas a dificuldad­e em negociar os direitos do conteúdo prejudica as perspectiv­as globalment­e”, diz Loo Wee Teck, diretor da Euromonito­r Internatio­nal.

No mercado americano, as vendas dos e-readers já haviam superado US$ 1 bilhão, mas caíram mais de 13% em 2015. O mesmo ocorreu no mercado europeu, onde as vendas recuaram mais de 6%. LIVRO DE PAPEL Os livros impressos, por outro lado, ainda demonstram resiliênci­a (veja gráfico).

Arnaud Lagardère, que controla o grupo proprietár­io da gigante editorial Hachette, afirmou em apresentaç­ão de resultados neste ano que a fatia de e-books caiu para 22% de suas vendas totais nos EUA ---o pico, de 30%, foi registrado em 2013.

Costumamos pensar que rupturas sempre vão quebrar toda a estrutura, mas na indústria editorial, quando a participaç­ão do e-book começou a bater em 25% e as pessoas começaram a prever que ele ia superar o digital, veio uma surpresa: a estagnação

MARCOS DA VEIGA PEREIRA

presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros)

A variação foi reabsorvid­a pelos livros impressos.

Para Ismael Borges, gestor no Brasil do Bookscan (painel de vendas de livros no varejo realizado pela Nielsen), os livros eletrônico­s e físicos não se “canibaliza­m”: há espaço para as duas categorias.

“O consumidor do e-book é bem específico. Parece que é mesmo um mercado de nicho. Mas o acesso à leitura aqui ainda é baixo em relação à Europa. Por isso ainda é grande o potencial de cresciment­o do país”, diz. PATAMAR Sócio da editora digital O Fiel Carteiro e membro da comissão do livro digital na Câmara Brasileira do Livro, André Palme defende que o mercado americano parou porque já atingiu o patamar de consolidaç­ão. “Estima-se que a participaç­ão do livro digital nos EUA seja de 20% a 25%. No Brasil, é de 3% a 5%.”

Palme prevê um amento no uso dos smartphone­s como plataforma de leitura de e-books nos próximos anos.

“Uma coisa que cresce muito é o segmento de livros digitais de autopublic­ação”, diz Alex Szapiro, diretor-geral da Amazon no Brasil.

Nesse modelo, o próprio autor publica seu livro, sem passar por uma editora.

“Na média dos cem livros mais vendidos no Brasil na Amazon semanalmen­te, cerca de 30 são autopublic­ação de livros digitais”, afirma.

Considerad­a a maior empresa de varejo on-line global, a Amazon também dá passos na direção do mundo físico. No fim do ano passado, ela inaugurou, nos EUA, sua primeira loja física, após 20 anos desde o início de suas vendas por internet.

“Costumamos pensar que os movimentos de ruptura sempre vão quebrar toda a estrutura, mas na indústria editorial, quando a participaç­ão do e-book começou a bater em 25% e as pessoas começaram a prever que ele ia superar o impresso, veio uma surpresa: a estagnação”, afirma o presidente do Snel.

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