Folha de S.Paulo

Com qual dinheiro?”, diz.

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aporte financeiro feito pelo governo do Estado.

Em Francisco Morato, os desabrigad­os da chuva enfrentam agora os escaninhos da burocracia.

A casa do metalúrgic­o Juraci Santana, 27, por exemplo, está condenada. Na beira de um barranco que caiu, o imóvel ficou cheio de rachaduras nas paredes e no teto. “Saí por medo de morrer”, diz ele, que está pagando aluguel para viver com a mãe e o irmão em uma garagem.

Um mês depois, a Defesa Civil não lhe deu um atestado de interdição do imóvel. Sem o papel, ele não é oficialmen­te um desabrigad­o e não tem direito à bolsa-aluguel.

Outras vítimas de Morato contaram a mesma história à reportagem. A diarista Marli Gomes, 40, vive com 12 parentes —cinco deles crianças— em um barraco a pouco mais de um metro de um enorme barranco. Ali, a terra também caiu no dia 10. O risco à família é altíssimo, mas ninguém pretende sair desse local.

Sem laudo da Defesa Civil, Marli também caiu no limbo burocrátic­o. “Nós não temos condições de sair daqui sem essa bolsa. Vou para onde, CESTA BÁSICA Na vizinha Mairiporã, outra cidade atingida pelo temporal, o padeiro Cristiano França, 35, também não recebeu a ajuda prometida. Na tragédia, ele perdeu sete parentes soterrados —três filhos, a mulher, sobrinha, pai e mãe.

“A prefeitura me mandou só uma cesta básica”, diz. O serviço social da cidade também disponibil­izou um psicólogo para acompanhar Cristiano. Fora isso, nada.

Da família, sobreviver­am

IVONETE DOS SANTOS, 65

moradora de Francisco Morato, na Grande São Paulo, que teve a casa destruída com as chuvas do mês passado Cristiano, uma filha dele de 16 anos e sua irmã Cristiane, que ficou ferida com o soterramen­to. Os três estão vivendo de favor em uma casa cedida por vizinhos.

Em nota, o governo do Estado afirma que, um mês após a tragédia, ainda espera que os municípios enviem dados das famílias desabrigad­as para liberar a verba emergencia­l do auxílio aluguel. Diz também que os desabrigad­os terão prioridade em moradias populares já em construção.

A Prefeitura de Francisco Morato não respondeu aos questionam­entos da reportagem e representa­ntes de Mairiporã não foram localizado­s. CASA INVADIDA Moradores de Francisco Morato arrecadara­m R$ 840 em uma vaquinha para comprar as lonas que agora cobrem um barranco. O medo é que mais terra caia quando chover de novo.

O vendedor Thiago Lourenço, 26, foi um dos que participar­am do rateio. “Hoje, a prefeitura diz que vivemos em áreas de risco. É verdade. Mas quem autorizou as construçõe­s? Compramos nossa casa num leilão da própria prefeitura, em 2010”, afirma ele, também desabrigad­o e sem a bolsa-aluguel.

Na cozinha em ruínas da casa onde morava, Ivonete conta que o prefeito de Francisco Morato, Marcelo Cecchettin­i (PV), visitou as famílias desabrigad­as.

“Ele disse que as casas aqui são invadidas. Eu moro aqui há 25 anos, paguei IPTU, pagava água e luz. Minhas mãos até formigam quando falo, quando entro aqui. Só Deus sabe o que está passando no meu coração”, diz.

Estou pagando aluguel do meu bolso, faz muita diferença na nossa renda. Me jogam de um lugar para o outro, cada um fala uma coisa

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