Folha de S.Paulo

Advogado de opinião, ganhou fama de bravo

- ANTÔNIO LEITE CARVALHAES (1923-2016) ANDRÉ MONTEIRO

Antônio Leite Carvalhaes adorava contar histórias.

Nascido em São José do Rio Pardo (a 254 km de São Paulo), deixou a cidade ainda criança quando seu pai abriu uma farmácia em Campinas (a 93 km de São Paulo).

Defensor da Revolução Constituci­onalista de 32, vibrava ao lembrar das fugas da polícia durante os protestos contra a ditadura de Getúlio Vargas no Estado Novo.

Formado em direito na USP em 1949, chegou a dar aulas, mas dizia que gostava mesmo era de advogar.

Contava que no início da carreira fez um trabalho em uma cidade famosa por servir de “pouso de bandido”. Além de documentos, levou uma pistola que deixava embaixo do travesseir­o. “Só por precaução”, dizia, aos risos.

Foi casado com Helenita por 54 anos, até ficar viúvo. Amava cachorros —gosto herdado pelos filhos e netos.

Eleito vereador e deputado estadual (relatou a Constituiç­ão Estadual de 1967), defendia opiniões com veemência na tribuna —chegou a jogar um cinzeiro em um adversário durante um debate, o que alimentou a fama de bravo.

Na vida pública, a maior polêmica em que se envolveu foi quando, secretário de obras, autorizou a demolição do imponente teatro municipal de Campinas, em 1965. Dizia aos críticos que um laudo atestava problema estrutural.

Fundou a Academia Campinense de Letras e, como os colegas imortais, considerav­a o gentílico “campineiro” uma anomalia. Dizia que designa ofício, não o morador.

Morreu no dia 2, aos 92 anos, após lutar contra um câncer. Deixa três filhos, sete netos e uma bisneta. coluna.obituario@grupofolha.com.br

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