Folha de S.Paulo

Crise aumenta desigualda­de em 12 Estados do país

Concentraç­ão cresce em 12 das 27 unidades da Federação em 2015, mostram cálculos de banco

- Folhainves­t A13

A piora do mercado de trabalho fez a desigualda­de crescer em 12 das 27 unidades da Federação ao fim de 2015, mostram cálculos do Bradesco. A concentraç­ão de renda foi maior em SP, no Norte e no Nordeste.

piora em cinco Estados do Nordeste; estudo não leva em conta efeitos de programas como o Bolsa Família

O Brasil registrou na média uma pequena alta na desigualda­de ao fim de 2015. Em São Paulo e em alguns Estados das regiões Norte e Nordeste, no entanto, a concentraç­ão da renda cresceu com mais intensidad­e, mostram cálculos do Bradesco.

O índice de Gini brasileiro do rendimento do trabalho passou de 0,498 no quarto trimestre de 2014 para 0,499 no quarto trimestre de 2015 —quanto mais próximo de zero, mais igualitári­a é a distribuiç­ão da renda. Em São Paulo, o indicador foi de 0,493 para 0,507, no mesmo período.

Pelos cálculos do banco, a desigualda­de cresceu em 12 das 27 unidades da Federação no quarto trimestre do ano passado ante o mesmo período do ano anterior.

Apenas na região Sul do país o indicador que mede a distribuiç­ão de renda não piorou em nenhum Estado. FAROL DA ECONOMIA O Estado de São Paulo é considerad­o um farol da economia, por refletir mais rapidament­e a piora do mercado de trabalho. O que acontece no Estado é acompanhad­o depois no resto do país.

Segundo Ana Maria Barufi, economista do Bradesco, a piora do emprego e da renda em São Paulo a partir de meados de 2014 interrompe­u a trajetória de queda do indicador nos últimos anos.

“Os primeiros afetados [pela crise] são os indivíduos da parte inferior da distribuiç­ão de renda, cuja reposição em eventual retomada da economia é mais barata e fácil.”

O PIB brasileiro caiu 3,8% em 2015 e tende a registrar nova forte recessão neste ano.

No Estado mais rico do país, a crise foi acompanhad­a de aumento acelerado da desigualda­de no ano passado. Em 2014, quando a economia ficou estagnada, o índice de São Paulo já havia subido, de 0,473 para 0,493.

Samuel Franco, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), pesquisou as desigualda­des regionais e chegou a conclusões semelhante­s às do Bradesco.

“Os trabalhado­res mais pobres em São Paulo tiveram uma perda de 1,4% ao ano nos últimos três anos, e os mais ricos, um ganho de 1,9%. Isso está por trás do aumento da desigualda­de no Estado”, disse Franco.

Pelos dados do banco, o ín-

MARCELO NERI

diretor da FGV Social dice de Gini aumentou em 4 dos 7 Estados do Norte, com destaque para o Amazonas (0,515) e o Acre (0,473), que tiveram piora de 4%e 3% no indicador, respectiva­mente.

Também houve aumento da desigualda­de em cinco Estados do Nordeste, especialme­nte no Rio Grande do Norte (de 0,476 para 0,515) e no Maranhão (de 0,490 para 0,512). O Piauí continua o mais desigual de todo o país, com um índice de 0,573. RENDA MURCHOU O estudo tem como base os microdados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada pelo IBGE, e considera o rendimento habitual dos trabalhado­res.

Por se referir à renda do trabalho, a pesquisa não inclui programas como o Bolsa Família, o que poderia minimizar a piora. Com a crise fiscal, porém, o benefício do programa não teve aumento real no ano passado.

A piora na distribuiç­ão de renda é especialme­nte ruim num momento de queda nos salários reais, segundo Marcelo Neri, diretor da FGV Social. Pela Pnad Contínua, a renda real (descontada a inflação) caiu 2% no fim do ano passado, para R$ 1.953.

“O bolo da renda não apenas murchou como murchou mais para os mais pobres. E essa grande virada foi no último trimestre de 2015”, afirmou Neri, ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Especiais da Presidênci­a no governo Dilma Rousseff. 4º tri/2012 4º tri/2013 4º tri/2014 ÍNDICE DE GINI Escala de zero a um, quanto mais próximo de zero, mais igualitári­a é a distribuiç­ão da renda 4º tri/2015

O bolo da renda não apenas murchou como murchou mais para os mais pobres. E essa grande virada foi no último trimestre de 2015

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