Folha de S.Paulo

Drogas na ONU

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Teve lugar em Nova York na última semana a terceira sessão especial das Nações Unidas sobre drogas, com a participaç­ão de dezenas de chefes de Estado —a primeira iniciativa do gênero desde 1998.

O debates deixaram claro um cisma crescente na comunidade internacio­nal com respeito ao tema. De um lado, países como México, Colômbia, Canadá, Noruega, Uruguai, entre outros, denunciara­m a falência do paradigma de guerra às drogas e a necessidad­e de uma abordagem mais flexível da questão.

De outro, nações como Rússia, China, Irã, Indonésia e Arábia Saudita, além de países da África, defenderam a manutenção do modelo atual e, em alguns casos, até a utilização da pena de morte para enfrentar o problema.

O documento final reflete a difícil negociação entre esses dois polos.

Verdade que houve avanços. As políticas sobre entorpecen­tes passaram a contemplar cada vez mais preocupaçã­o com o usuário. Manteve-se, porém, o espírito de 1998, com o compromiss­o de buscar um mundo livre de drogas.

Ocorre que o planeta não se aproximou nem um pouco desse objetivo nestes 18 anos. Trilhões de dólares foram gastos na repressão, enquanto centenas de milhares de pessoas receberam penas de encarceram­ento sem que fossem reduzidas a proporção global de usuários ou a produção de estupefaci­entes.

Diante desse quadro, florescera­m abordagens alternativ­as.

Portugal descrimina­lizou o consumo de todas as drogas; a Suíça desenvolve­u um programa pioneiro de prescrição de heroína para dependente­s; Estados norte-americanos legalizara­m o uso recreacion­al da maconha; o Uruguai prepara-se para iniciar a venda da erva sob o controle do Estado.

Durante o encontro da ONU, o presidente do México anunciou um plano para liberar o uso medicinal da cânabis e aumentar a posse permitida da substância; o representa­nte do Canadá confirmou que o país concluirá em breve um projeto para legalizar a maconha.

Trata-se de um caminho mais promissor para lidar com a questão, na visão desta Folha.

A comunidade internacio­nal deveria reconhecer o fracasso do paradigma proibicion­ista, passando a preconizar uma abordagem pela via da descrimina­lização e da legalizaçã­o, a começar pela maconha, num modelo que resulte em ampliação das liberdades e economia de recursos, com o menor impacto possível sobre a saúde pública.

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