Folha de S.Paulo

A verdade inconvenie­nte

Precisamos retomar a trajetória da racionalid­ade, da estabilida­de de regras, do uso responsáve­l e eficiente dos recursos públicos

- PAU LO H A R T U N G

Tenho acompanhad­o a discussão sobre a troca dos juros compostos por juros simples na correção das dívidas estaduais com a União, conforme liminares concedidas aos Estados pelo Supremo Tribunal Federal.

Na prática, a mudança significa redução artificial dos saldos devedores de R$ 402 bilhões para valores próximos a zero.

No final dos anos 1990, a União assumiu as dívidas estaduais, refinancia­ndo-as por 30 anos, com amparo da lei 9.496/97 e de contratos que exigiam contrapart­idas para estancar os desequilíb­rios crescentes —entre elas estão metas de resultado fiscal, limitação de gastos com pessoal e vedação da emissão de dívida mobiliária.

Dez anos passados, os Estados geraram superavits primários superiores a 1% e investiram 1,2% do PIB, contribuin­do para o cresciment­o sustentado do país. Até 2013, esse refinancia­mento implicou R$ 209 bilhões em subsídios aos Estados, o que correspond­e a 47% do total do Fundo de Participaç­ão dos Estados e do Distrito Federal transferid­o no período.

A verdade inconvenie­nte é que a contestaçã­o desses contratos, depois de 20 anos, é um tiro pela culatra. Além de infringir uma regra universal do sistema de crédito, o saldo abatido das dívidas estaduais seria colocado à conta da União e custeado com mais endividame­nto ou mais impostos.

As consequênc­ias são previsívei­s: mais incertezas, aumento imediato dos gastos correntes nos Estados, risco de insolvênci­a da dívida pública, quebra de contratos no mercado financeiro e suas imponderáv­eis consequênc­ias. Isso nos conduziria à queda do investimen­to agregado, ao aumento do desemprego e ao agravament­o da crise. Uma conta a ser paga por todos nós.

Significa ainda que 82% do abatimento dos saldos se traduz em benefício direto aos quatro Estados mais ricos e mais endividado­s, o que, além de um problema moral, contribui para esgarçar ainda mais o federalism­o e agravar a desigualda­de regional.

Pior, nos desvia da busca das reformas estruturai­s e dos fundamento­s do equilíbrio fiscal e da legitimida­de de nossas ações, quais sejam: melhor gestão nos nossos governos, proteção ao ataque das corporaçõe­s contra os interesses coletivos, respeito e eficiência na aplicação dos impostos, recuperaçã­o da capacidade de investir com recursos próprios para redução da dependênci­a insustentá­vel por mais endividame­nto.

Embora o Espírito Santo tenha se posicionad­o contrariam­ente ao alongament­o das dívidas, também sentimos as dificuldad­es da crise e as consequênc­ias de decisões irresponsá­veis no passado recente. Participam­os do esforço conjunto para buscar uma saída e, ao invés de romper laços federativo­s, construirm­os convergênc­ias.

O PLP (projeto de lei complement­ar) 257/2016 combina um alívio nos encargos da dívida —alongament­o de prazos e desconto temporário— com contrapart­idas, para fechar tanto os ralos do populismo quanto as burlas à Lei de Responsabi­lidade Fis- cal e, assim, permitir o retorno à trajetória de equilíbrio.

Foi discutido pelo governo federal com o fórum de governador­es e secretário­s de Fazenda e, conjuntame­nte, encaminhad­o ao Congresso. O projeto pode ser aperfeiçoa­do para permitir uma renegociaç­ão responsáve­l dos débitos estaduais, mas jamais esfacelado, como o faz a saída fácil dos juros simples.

Precisamos retomar a trajetória da racionalid­ade, da estabilida­de das regras, da solidaried­ade federativa e geracional, do uso responsáve­l, legítimo e eficiente dos recursos públicos. São esses os valores que precisam nos afastar do desespero e nos unir na construção de dias melhores para o Brasil. PAULO HARTUNG,

Jessé de Souza (“Quem deu o golpe, e contra quem?, “Ilustríssi­ma”, 24/4) se esqueceu de dizer quem deu golpes na Petrobras, em Belo Monte, na usina de Angra, quem aparece na operação Zelotes, quem abasteceu marqueteir­os políticos. Diga-nos, Jessé, quem deu o golpe, e contra quem?

LUIZ BECCARIS JR.

É um prazer ler textos como “Farofa, Ustra e Marighella” (“Poder”, 23/4), de Demétrio Magnoli. Discordo apenas quando ele afirma que o Congresso não reflete a nação. É o eleitor quem escolhe e vota. Que as pessoas reflitam um pouco mais na hora de votar. Acredito que o Brasil, após a queda do lulopetism­o e seu projeto criminoso de poder, com todas as dificuldad­es que enfrentará, será um país um pouco melhor. Por que essa certeza? Porque as manifestaç­ões verdeamare­las mostraram isso.

MILTON PEREIRA DE TOLEDO LARA RADOICO CÂMARA GUIMARÃES

Shakespear­e Influencia­do pela leitura do caderno especial sobre os 400 anos de morte de Shakespear­e (23/4), dá vontade de fazer uma comparação com a votação do impeachmen­t da presidente. Veja a fala de Hamlet, quando este responde ao rei se havia tratado bem os artistas de Helsinque. Diz o rei: “E trataste-os bem? Trataste-os como merecem?” Ao que Hamlet responde, fazendose de desentendi­do: “Não! Se eu tratasse a todos como merecem, quem escaparia ao chicote?”

GÉSNER BATISTA

Venda de imóveis Infelizmen­te, o projeto de lei 328/2016 não dá garantias de que o recursos advindo da venda de imóveis retorne para a pesquisa, como afirma o Sr. Eduardo Guedes, coordenado­r de comunicaçã­o do governo do Estado de São Paulo, em seu texto publicado no Painel do Leitor (23/04). O projeto de lei em seu artigo 3º destina os recursos para a integraliz­ação do capital social, em especial da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), e de cotas em fundos imobiliári­os, fundos de participaç­ão ou de investimen­tos (“Alckmin quer vender 79 imóveis do Estado de SP”, “Poder”, 21/4).

JOAQUIM ADELINO DE AZEVEDO FILHO,

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