Folha de S.Paulo

Delator liga entrega de propina a políticos

Advogado relatou em depoimento­s repasse de dinheiro em shoppings, apartament­os, estacionam­entos e hotéis

- RUBENS VALENTE

Recebedore­s seriam ligados à senadora Gleisi (PT), ao deputado Nelson Meurer (PP) e a João Pizzolatti (PP)

O advogado Antonio Carlos Brasil Fioravante Pieruccini, 67, detalhou em delação premiada homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) ter feito entregas de dinheiro em shoppings, apartament­os, estacionam­entos e hotéis para pessoas ligadas a três políticos: a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o deputado federal Nelson Meurer (PP-PR) e o ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC).

Os valores, segundo Pieruccini, foram providenci­ados pelo doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de propinas na Petrobras. Ele é o terceiro entregador de dinheiro de Youssef que aceitou fazer delação na Lava Jato.

A íntegra de seis depoimento­s prestados em fevereiro por Pieruccini —um dos quais foi citado, em parte, em relatório final da PF de março no inquérito que trata de Gleisi— foi tornada pública no dia 13 passado, após decisão do ministro do STF Teori Zavascki.

Segundo Pieruccini, em 2010 ele foi orientado por Youssef a fazer quatro viagens de São Paulo a Curitiba (PR) para entregar dinheiro à campanha de Gleisi, ex-ministra da Casa Civil (2011-2014).

Ele contou ter ouvido de Youssef que os valores “tinham sido acertados com Paulo Bernardo”, marido de Gleisi e ex-ministro do Planejamen­to (2005-2011) e das Comunicaçõ­es (2011-2015), e se destinavam à campanha eleitoral da candidata ao Senado.

Pieruccini disse que as entregas ocorreram em uma sala no PolloShop, localizado na rua Camões, em Curitiba, pertencent­e ao empresário Ernesto Kugler Rodrigues. Pieruccini levou uma caixa lacrada com a inscrição “P.B./Gleisi”.

Na sua frente, segundo o avogado, Kugler contou as notas, em um total de R$ 250 mil, mas fez duas reclamaçõe­s: o primeiro valor “não dava nem para o cheiro” e a etiqueta da caixa não deveria mais aparecer nas próximas entregas —houve mais três, de mesmo valor, de acordo com ele.

As entregas a Meurer, segundo o delator, foram “mais de 30” entre 2009 e 2011, quase sempre no hotel Curitiba, na cidade homônima, mas também no estacionam­ento do aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais (PR).

A Pizzolatti, segundo Pieruccini, houve duas entregas em dinheiro —a primeira, de R$ 100 mil, no segundo semestre de 2009.

A Procurador­ia-Geral da República denunciou Meurer e dois filhos dele em 2015, sob a acusação de participaç­ão no esquema de desvio de re- cursos da Petrobras. Em março de 2016, apresentou denúncia contra Pizzolatti e outros seis deputados do PP.

Em relação a Gleisi, a Polícia Federal anunciou o indiciamen­to da senadora, mas o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não concordou com a posição da polícia.

Ele alega que, em 2007, o Supremo proibiu a PF de fazer, por conta própria, o indiciamen­to de autoridade­s com foro privilegia­do, como o presidente da República, ministros de Estado, senadores e deputados.

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