Folha de S.Paulo

Lei causou envelhecim­ento da população e meninos mimados

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DE SÃO PAULO

As variadas marcas da política de filho único não serão apagadas tão cedo. Seus impactos podem ser percebidos, por exemplo, no envelhecim­ento populacion­al e até na forma como são tratados os filhos e netos únicos: os mimados “pequenos imperadore­s”.

Instituída em 1980, após a China já ter registrado uma queda importante na natalidade, a política estabelece­u cotas de filhos por casais.

Quem descumpris­se estaria sujeito a multas. Esteriliza­ções e abortos forçados foram amplamente relatados.

Ao longo dos anos, o número permitido de filhos por casal foi modificado e dependia de variados fatores, como de onde morava a família, se tratava-se de minoria étnica e se os pais tinham irmãos.

Em 2013, uma flexibiliz­ação permitiu, de forma geral, um segundo filho para casais em que pelo menos um dos pais era filho único (até então, só havia o direito caso pai e mãe fossem filhos únicos). E, no fim do ano passado, o governo anunciou que todos os casais podiam ter dois filhos.

No livro “China’s Hidden Children” (“As crianças escondidas da China”), a ame- ricana Kay Ann Johnson conta que havia ondas de arrocho na política, o que aumentava ou reduzia o número de crianças abandonada­s ou criadas escondidas das autoridade­s.

Pelo menos 6,5 milhões de pessoas vivem sem registro oficial na China devido à política de natalidade, segundo estudo citado pelo jornal “The New York Times”, em 2015.

Um conhecido efeito da política é o desbalance­amento entre homens e mulheres, devido a abortos e mortes de meninas. Estima-se que, em 2020, o país terá uma sobra de 30 milhões de homens em idade de casar.

Johnson, porém, acredita que uma parte dessas mulheres “em falta” apenas viva fora dos registros oficiais. EM BUSCA Outra consequênc­ia foi ter criado condições para milhares de adoções internacio­nais. Algumas dessas crianças, agora adultas, voltam à China em busca de respostas.

A professora conta que pais e filhos tentam se reencontra­r por meio da internet e de exames de DNA. “É reconforta­nte saber que os pais lembram e sentem falta dos filhos. Isso me inspirou a finalmente escrever o livro.” (JN)

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