Folha de S.Paulo

Excesso de oferta deixa escritório­s vazios em São Paulo

Entrega de prédios que começaram a ser erguidos no boom da economia aumenta estoque de espaços vagos

- EDSON VALENTE

FOLHA

Os espaços vagos em prédios de escritório­s aumentaram na cidade de São Paulo, segundo dados das principais consultori­as e empresas de pesquisa especializ­adas nesse tipo de empreendim­ento.

A taxa de vacância —relação entre o volume de imóveis vagos e o estoque total existente— em prédios corporativ­os cresceu de 12,44% no primeiro trimestre do ano passado para 14,88% no mesmo período deste ano, segundo a Buildings, empresa especializ­ada em pesquisa imobiliári­a corporativ­a.

Já nos espaços corporativ­os classe A a vacância se manteve praticamen­te estável —passou de 20,21% para 20,39%, na mesma comparação—, segundo a Buildings.

Pesquisa da consultori­a imobiliári­a JLL aponta taxa de vacância de 24,17% no primeiro trimestre deste ano para escritório­s de padrões A e AA, ante 22,5% no primeiro trimestre do ano passado.

Segundo a empresa de serviços imobiliári­os comerciais Cushman & Wakefield, nos edifícios corporativ­os classe A na cidade de São Paulo e em Alphaville, a vacância fechou o ano passado em 26,3% —3,5 pontos percentuai­s além do verificado 12 meses antes.

A explicação para a alta crescente de escritório­s desocupado­s na maior cidade do país passa mais pela quantidade de novos empreendim­entos do que pela debandada dos inquilinos.

Esses vazios refletem o boom de empreendim­entos quecomeçar­ama serconstru­ídos no começo da década de 2010 e que ainda estão sendo entregues pelas construtor­as.

Prova disso, segundo Paulo Casoni, diretor de transações da JLL, é que, em 2015, a absorção bruta —áreas alugadas em empreendim­entos com “habite-se”— bateu recorde em 18 anos em São Paulo e região de Alphaville: chegou a 582 mil metros quadrados em edifícios corporativ­os de alto padrão.

“Apesar de 2015 ter sido turbulento e de 2016 estar ruim, a ocupação não re- Taxa de vacância nos principais polos de escritório­s da região metropolit­ana no 1º trimestre de 2016, em %* Alphaville Marginal Pinheiros Berrini Vila Olímpia Itaim Bibi Barra Funda Paulista Verbo Divino Faria Lima Centro Moema Jardins 32,6 32,3 26,0 26,0 23,5 21,6 18,1 17,5 15,7 12,6 5,2 0,0 traiu”, diz Fernando Libardi, sócio-diretor da Buildings.

Em paralelo, a oferta de empreendim­entos de classes A e AA não parou de crescer, a um ritmo de 400 mil metros quadrados anuais entre 2012 e 2015, pelos cálculos da JLL.

“Para este ano, a previsão de entrega é menor, na faixa de 380 mil metros quadrados”, afirma Casoni. “A taxa de vacância, porém, deverá subir um pouco mais, chegando a 25%.” CONCENTRAÇ­ÃO Segundo a Cushman, as entregas neste ano devem somar 190 mil metros quadrados em São Paulo e estarão concentrad­as nas regiões da avenida Dr. Chucri Zaidan (Santo Amaro), da Vila Olímpia, da avenida Juscelino Kubitschek, de Pinheiros e da avenida Paulista.

A Buildings projeta, para o triênio 2014, 2015 e 2016, alta de 25% no estoque de escritório­s de todos os padrões —C, B, A, AA— em São Paulo.

“É algo equivalent­e a um cresciment­o de 30 a 40 anos do mercado de escritório­s em três anos”, compara Libardi.

Na conta da Urban Systems, empresa de pesquisa e análise de dados, só no ano passado foram entregues 800 mil metros quadrados de novos escritório­s. Esse somatório computa salas comerciais menores, além das lajes corporativ­as. EUFORIA A desova de novos espaços é resultado de uma euforia construtiv­a iniciada entre 2010 e 2011, segundo especialis­tas da área imobiliári­a.

“Com a economia forte de então, os incorporad­ores se animaram”, diz Raquel Miralles, diretora de transações da Cushman & Wakefield.

Se o número de novos empreendim­entos deverá entrar em curva descendent­e —a Buildings calcula 60 entregas em São Paulo neste ano e 15 entregas em 2017—, chegar a um patamar desejável de vacância, algo entre 10% e 15%, ainda levará tempo.

“O mercado terá de esperar até 2020 ou 2023”, prevê Thomaz Assumpção, presidente da Urban Systems. VOOPARAAQU­ALIDADE Além das quedas dos valores de aluguel, os locadores oferecem outras vantagens para conquistar os inquilinos. Entre elas, Miralles enumera carências para pagamento e entrega da laje completa, com piso, forro e ar-condiciona­do já instalados.

É pelo caminho dos descontos e das facilidade­s que muitas empresas têm buscado instalaçõe­s mais modernas, eficientes e de padrão mais elevado, em um movimento conhecido no mercado como “flight to quality”.

“Há migrações de empreendim­entos C para B, B para A e A para AA”, afirma Libardi. “Isso já acontecia no ano passado e continua neste ano.” (EV)

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Marcus Leoni - 14.jan.16/Folhapress Edifício comercial já entregue em São Paulo

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