Folha de S.Paulo

MURO DE PEDRA

Marquises do Memorial da Resistênci­a abriga cada vez mais usuários, dizem porteiros

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Sob as marquises do antigo prédio do DOPS, na Luz (centro), o acender de cachimbos é frenético dia e noite. A entrada do edifício que ficou conhecido como um centro de tortura durante o regime militar serve agora de abrigo a usuários de drogas.

A cerca de 500 metros do chamado fluxo —concentraç­ão de dependente­s químicos atrás de crack na rua Dino Bueno— a portaria do prédio vem ganhando mais moradores, segundo seguranças do Memorial da Resistênci­a, museu dedicado à história dos anos de ditadura.

“Algumas das pessoas aqui a gente já conhece bem. Se você sair perguntand­o aí, vai ver que tem gente estudada. Tem uma moça aqui que é advogada e vive na droga”, disse um funcionári­o do museu.

No momento em que a re- portagem esteve no local na última sexta-feira (22), havia 32 pessoas sob a marquise.

Eles deixam a frente do Memorial da Resistênci­a quando o lugar vira alvo dos funcionári­os das empresas que cuidam da cidade de São Paulo. Mas voltam a ocupar o local logo em seguida.

É comum na cracolândi­a o deslocamen­to das concentraç­ões de usuários de drogas em função da atuação do poder público. Mais repressão em um determinad­o ponto, frequentem­ente, resulta não na dispersão dos dependente­s, mas na ocupação de um trecho mais à frente. COMBATE Dois anos após criar o programa De Braços Abertos, a prefeitura mudou de estratégia e, agora, tenta distanciar os participan­tes da iniciativa do tráfico de drogas na região da cracolândi­a.

O programa De Braços Abertos usa a estratégia de redução de danos, em que o dependente é incentivad­o a diminuir gradativam­ente o consumo da droga, sem recorrer a internação e com oferta de emprego e renda.

Porém, a proximidad­e com os traficante­s e com o fluxo recebe críticas desde que a ação foi implantada, em 2014.

O objetivo do poder municipal é colocar os beneficiár­ios do programa em hotéis cada vez mais longe da região.

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Avener Prado/Folhapress Usuários de crack se reúnem sob marquise do antigo prédio do Dops, na região central de São Paulo, hoje sede do Memorial da Resistênci­a; segundo funcionári­os, número de dependente­s no local tem crescido
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Marcus Leoni/Folhapress Usuária acende cachimbo em frente ao edifício do antigo DOPS na região central; local durante a noite (à dir. acima)
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Avener Prado/Folhapress

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