Folha de S.Paulo

Gloriosos geraldinos

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RIO DE JANEIRO – Nãochegaas­er uma praga de Arubinha — lenda segundo a qual em 1937 o jogador do modesto Andaraí enterrou um sapo no gramado de São Januário, resultando um longo jejum de títulos para o Vasco. Mas há algo de estranho acontecend­o com o Maracanã.

Repaginado para a fatídica Copa de 2014, virou um lugar frio, burocrata, hospitalar, sem alma. E desabitado dos verdadeiro­s torcedores. Este ano só foi receber pela primeira vez um jogo de futebol no domingo (1º). Botafogo e Vasco até que se esforçaram, mas o que chamou a atenção foi o estado horroroso do gramado. Várzea perde.

O Maracanã estava mais uma vez em obras, adaptando-se para ser o palco de carros alegóricos e trios elétricos previstos para animar a cerimônia de abertura da Olimpíada. O que não impediu que nele se apresentas­sem os Rolling Stones, em fevereiro, e o Coldplay, em abril, ambos reunindo mais de 130 mil pes- soas. Definitiva­mente é mais uma arena de espetáculo­s do que um estádio de futebol. Sem falar que os custos de uso e manutenção são altíssimos, e os clubes acabam quase pagando para jogar. Até o consórcio que o administra­va, controlado pela Odebrecht, achando que já tinha tirado do bolo tudo o que tinha de tirar, pulou fora do negócio.

Futebol carioca no estádio só a partir de outubro, e olhe lá. Convenhamo­s que assim fica difícil reviver momentos sublimes como a vaia e o aplauso a Julinho Botelho, o milésimo gol de Pelé, as gingadas de Mané Garrincha, o elástico de Rivelino, a cabeçada de Rondinelli, o lençol de Roberto Dinamite; e até suas figuras mais folclórica­s como o ladrilheir­o de 1981 e a fogueteira de 1989 — que fim levaram?

Para o “new” Maracanã tornar-se o velho Maraca, só voltando a alegria da geral com os gloriosos geraldinos de guarda-chuva. Sem obra de restauraçã­o superfatur­ada, por favor. MARCELO FREIXO

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