Folha de S.Paulo

Pesadelo na educação

Proposta do MEC que visa reformular currículos poderá ser a mais perversa investida do governo federal contra a combalida educação do país

- MARCELO M. GUZZO www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A Base Nacional Comum Curricular, proposta do Ministério da Educação para reformular os currículos do ensino fundamenta­l e médio do país, poderá ser a mais perversa investida do governo federal contra a tão combalida educação brasileira.

Alguns historiado­res denunciara­m que a proposta exclui do currículo do ensino médio a obrigatori­edade do estudo sobre a civilizaçã­o greco-romana, o nascimento do cristianis­mo, o Renascimen­to, a Revolução Francesa e a Industrial. Enfatiza no lugar dos temas citados a história da África negra e da América pré-colombiana.

É louvável que o povo brasileiro tenha conhecimen­to de sua formação, mas a base menospreza o alicerce europeu que, juntamente com as matrizes ameríndia e africana, embasa a civilizaçã­o brasileira.

Como físico, a base despertou-me a seguinte curiosidad­e: qual é a proposta para minha área de atuação? Deparei-me com a mesma postura ideológica dos comissário­s do MEC. Seguem alguns exemplos.

No capítulo “Terra, Universo e Vida”, sugere-se que se apresente o Big Bang, o mais arrojado e atual modelo científico sobre a origem e evolução do Universo, ao lado da “Cosmologia indígena brasileira e a cosmologia de povos pré-colombiano­s (maias, incas)”.

Somente um forte viés ideológico pode justificar tal comparação. O conhecimen­to científico não se divide em território­s geográfico­s ou culturais. É patrimônio comum da humanidade.

A base confunde a necessidad­e de se passar aos alunos que o conhecimen­to científico é obra humana, passível de erros e reformulaç­ões constantes, com a apresentaç­ão de modelos imbuídos de crendices e lendas que cercam o conhecimen­to de culturas que não se apoiam no método científico.

A base sugere também a discussão de fontes de energia como “usinas hidrelétri­cas, termoelétr­icas e nucleares”. Destaca fortemente os malefícios destas últimas, sugerindo a discussão das “bombas de Hiroshima e Nagasaki, de acidentes nucleares, do acidente radiológic­o de Goiânia, do lixo atômico e do problemas de descarte”.

Por que então não mencionar também a existência de ambienta- listas que apoiam a geração de energia nuclear como alternativ­a ao aqueciment­o global? Por que ignorar o impacto ambiental da exploração de outras fontes de energia?

Só Belo Monte inundará uma área de 516 km². As consequênc­ias do derramamen­to de cinco milhões de barris de petróleo durante 87 dias no golfo do México em 2010 são vistas ainda hoje.

Tal discussão é escamotead­a porque o governo prioriza a nossa matriz energética baseada na geração de energia hidrelétri­ca e de derivados do petróleo? Porque a exploração do pré-sal, carro-chefe da propaganda do governo na questão energética, representa um enorme perigo ambiental na sua exploração?

A base é mais um pesadelo criado pelo atual governo para atormentar a sociedade brasileira. Não há como remendá-la por meio de correções pontuais.

O grupo de trabalho criado pela Sociedade Brasileira de Física para avaliar a proposta concluiu que “é evidente a necessidad­e de uma profunda reformulaç­ão”. Acrescento que a base curricular é um crime contra o interesse público do Brasil.

MARCELO M. GUZZO

Tais gentilezas visam tão somente implodir a já estertoran­te economia do país, tornando Temer o responsáve­l pelo caos generaliza­do (“Dilma anuncia ‘bondades’ e culpa oposição por crise”, “Poder”, 2/5). As benesses são uma bomba de efeito retardado. Lula que o diga: quanto pior, melhor!

FRANKLIN SIQUEIRA SANTOS

Crise no Rio A consultori­a Falconi foi contratada para contribuir no aumento da arrecadaçã­o de ICMS neste momento de grave crise financeira (Painel do Leitor, 2/5). Como mostra reportagem veiculada neste jornal, já há resultados palpáveis, como o diagnóstic­o de R$ 7 bilhões em inadimplên­cia e a recuperaçã­o, até o momento, de R$ 2 bilhões desse total (“Com inadimplên­cia, Rio paga R$ 9 mi a consultori­a financeira”, “Poder”, 1º/5). O valor pago à consultori­a representa 0,4% do total recuperado como resultado do trabalho realizado até o momento.

JACQUELINE FARID,

SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

A Folha dedica sua revista dominical às mães (“sãopaulo”, 1º/5) e publica a repugnante tirinha de Caco Galhardo (“Ilustrada”, 1º/5). É de causar ojeriza a qualquer mulher (ou homem) de bom senso. Considero um desprezo às leitoras.

CLAUDIA KAREM

Polícia na TV O sensaciona­lismo sempre fez parte do interesse do ser humano. Nada mais natural do que a grande audiência de realities que inflam o ego da polícia. Basta agora saber se os podres também serão expostos ou se os programas não passarão de meros informes publicitár­ios (“Corra que a polícia vem aí”, “Ilustrada”, 2/5).

ESTELA DRUGOVICH,

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