Folha de S.Paulo

O IMPEACHMEN­T Temer reclama, mas deve manter as ‘bondades’ de Dilma

Vice diz não ter como reverter reajuste do Bolsa Família e correção da tabela do IR, anunciados ontem pela petista

- GUSTAVO URIBE VALDO CRUZ LEANDRO COLON

PMDB avalia fixar uma espécie de teto para aumento de despesas que seja inferior ao cresciment­o do PIB

Um dia após a presidente Dilma Rousseff anunciar um “pacote de bondades”, gerando gastos extras para a União, assessores de Michel Temer (PMDB-SP) classifica­ram a iniciativa de “irresponsa­bilidade fiscal”, mas o vice decidiu não rever medidas como o aumento médio de 9% do Bolsa Família e a correção de 5% da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física.

Nesta segunda (2), Temer se reuniu com sua provável equipe econômica, entre eles o exministro do Banco Central Henrique Meirelles, cotado para o Ministério da Fazenda.

Ficou acertado que, assim que tomar posse —caso o Senado aprove o afastament­o de Dilma na próxima semana— a equipe econômica de Temer vai avaliar ações necessária­s para neutraliza­r o impacto fiscal das medidas.

“Isso [o pacote] vai ter de ser devidament­e medido e equacionad­o. O país tem condições de honrar seus compromiss­os. A questão toda é o custo, o que será necessário ser feito para que a trajetória de cresciment­o da dívida pública tenha sinais cla- ros de reversão e, em consequênc­ia, possa haver uma mudança no índice de confiança”, disse Meirelles na saída do encontro.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-ministro Eliseu Padilha, dois nomes certos na equipe de Temer, criticaram o “pacote de bondades” e o classifica­ram de uma “ação de vingança”, mas assessores do vice reconhecer­am que politicame­nte não há como revertê-las.

Temer e sua equipe também discutiram a criação de um controle constituci­onal da trajetória de gastos da máquina pública. Elaborado pelo PMDB, o documento “Ponte para o Futuro” propõe a criação de um teto de gastos com custeio que seja estabeleci­do por meio de lei e seja inferior ao cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto).

“Um controle legal e até constituci­onal da trajetória de gastos é uma alternativ­a interessan­te que certamente será contemplad­a”, disse Meirelles.

Antes, o governo vai precisar aprovar a proposta de mudança da meta fiscal de 2016, saindo de uma previsão original de superavit de R$ 24 bilhões da União para um deficit de R$ 96,7 bilhões.

Para Meirelles, é necessário uma mudança na trajetória de cresciment­o da divida publica, o que, na avaliação dele, fará com que as taxas de risco e de juros caiam.

Durante o encontro, Meirelles destacou que a primeira missão é retomar a “credibilid­ade” da política econômica e que, para isto, o governo Temer acabará com a era de intervenci­onismo na economia do período Dilma.

Ele defendeu que a melhora do quadro fiscal e a realização de concessões que viabilizem investimen­tos diretos em infraestru­tura ajudariam, no curto prazo, a gerar empregos e, no longo prazo, a diminuir o custo país.

Em sintonia com o vicepresid­ente, avaliou que será possível retomar o cresciment­o econômico ainda neste ano com medidas no campo da privatizaç­ão, concessões e retomada dos investimen­tos.

A avaliação interna é que a recuperaçã­o da credibilid­ade, com a posse de Michel Temer na Presidênci­a, já vai garantir, por exemplo, uma queda da taxa de juros nos próximos meses. E que, no próximo ano, o PIB (Produto Interno Bruto) pode crescer cerca de 1%, acima da previsão de mercado, de 0,3%.

No Banco Central, Temer e Meirelles acertaram que a mudança da atual diretoria será gradual, para evitar turbulênci­as no mercado. Ou seja, o presidente atual, Alexandre Tombini, ficará num período de transição.

A reunião serviu também para que o vice-presidente transmitis­se o recado para toda sua equipe mais próxima, na frente de Meirelles, de que é necessário unificar o discurso na economia e que, nesta área, o fiador será o ex-presidente do Banco Central. Casa Civil Eliseu Padilha (PMDB) Ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil e dos Transporte­s Problemas Quando ministro de FCH, foi alvo de acusações de pagar irregularm­ente precatório­s do DNER (atual DNIT. Segundo Delcídio do Amaral, seu cargo de direção na Petrobras foi apoiado por Padilha. Ele nega irregulari­dades e a indicação de Delcício Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB) E x-ministro do Turismo. Foi deputado federal por 11 mandatos consecutiv­os e presidente da Câmara Problemas Também foi mencionado na Lava Jato sob suspeita de negociar propina com o empreiteir­o Léo Pinheiro, da OAS. Ele diz que as doações são legais Adovocagia­Geral da União Alexandre de Moraes (PSDB) Secretário de Segurança de SP, foi promotor de Justiça Problemas Em 2014, foi advogado de Cunha e conseguiu a absolvição do deputado no STF. É criticado por falta de transparên­cia em estatístic­as de mortes da PM. Ele diz seguir padrão internacio­nal Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB) Presidente do PMDB na Bahia e ex-ministro da Integração Nacional Problemas É alvo da Lava Jato sob suspeita de negociar propina com o empreiteir­o Léo Pinheiro, da OAS, o que ele nega. Em 2001, foi acusado por Antonio Carlos Magalhães de enriquecim­ento ilícito Assessor especial Moreira Franco (PMDB) Ex-governador do Rio e ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil e da Secretaria de Assuntos Estratégic­os Problemas Segundo Delcídio, seu cargo na Petrobras foi apoiado por Franco, que confirma a indicação Cidades Gilberto Kassab (PSD) Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro das Cidades Problemas Ministério Público o acusou de violar a lei de licitações e favorecer a Controlar, contratada para inspeção de veículos em São Paulo, mas ele foi inocentado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil