Folha de S.Paulo

Novo golpe de cartão de crédito tem até ‘grampo’ em vítimas

Bandidos intercepta­m ligação do cliente para o banco e enviam motoboy para coletar cartão quebrado ao meio

- GUILHERME BRENDLER

Bancos alegam que não têm responsabi­lidade, pois clientes que foram vítimas forneceram a senha de uso pessoal

Um golpe bastante popular em São Paulo, aplicado em usuários de cartão de crédito, está sendo sofisticad­o pelos estelionat­ários.

Criminosos ligam para clientes de bancos dizendo que o cartão de crédito deles foi clonado. Munidos de informaçõe­s verdadeira­s da vítima, pedem que ela entregue o dispositiv­o quebrado ao meio para um motoboy e que digite a senha no telefone.

Além disso, conseguem intercepta­r a ligação das vítimas para o número da central do banco.

O psicólogo Mário Milanello, 53, estava em casa no final da tarde do dia 14 de abril quando recebeu uma ligação emseutelef­onefixo.Dooutro lado, a pessoa dizia ser do departamen­to de segurança dos cartões do banco Itaú.

O atendente perguntou se Milanello havia feito uma compra em uma loja em Mauá (Grande São Paulo), e um saque na função débito. O psicólogo disse que não, e ouviu do atendente que dois cartões seus haviam sido clonados.

Certo de que era alguém do banco —já que possuía suas informaçõe­s pessoais, além de uma lista de compras que efetivamen­te havia feito—, o psicólogo deu sequência ao cancelamen­to. Antes de concluir o procedimen­to, porém, pediu que a conversa fosse encerrada para que ele próprio ligasse para o banco.

Do mesmo aparelho, ligou para o número da central do banco, que consta no verso do cartão. O atendiment­o foi idêntico ao que estava acostumado. Em momento algum ele informou as senhas. Um motoboyfoi­atéacasade­Milanello e levou o envelope com os cartões quebrados.

Quatro horas depois, Milanello recebeu nova ligação, agora —de fato— do departamen­to de segurança dos cartões Itaú. “Aí eu já não acreditava em mais nada”, disse. O atendente disse que foram gastos R$ 35 mil em um só dia. SEM SENHA A mãe do engenheiro Adolfo Tanaami da Silva, 33, uma senhora de 74 anos, foi vítima desse mesmo golpe em fevereiro. O prejuízo foi de cerca de R$ 15 mil.

“Não houve fornecimen­to de senha em momento algum. O delegado nos disse que era gente de dentro do banco que passava as informaçõe­s”, afirmou Tanaami.

O engenheiro, que tem conta conjunta com a mãe, disse que a família entrou na Justiça contra o banco, já que a instituiçã­o financeira se negou a estornar os gastos dos criminosos.

A advogada C., que prefere não ser identifica­da, foi vítima desse golpe em abril do ano passado. Cliente do Santander, ela teve um prejuízo de mais de R$ 11 mil.

O advogado Alexandre Berthe, especialis­ta em direito do consumidor, afirma que esse golpe é aplicado, especialme­nte, em pessoas de faixa de renda alta. Segundo ele, os bancos têm negado o estorno dos valores. A resposta padrão é que a compra foi realizada com uso de senha pessoal, por isso as instituiçõ­es entendem que não é de sua responsabi­lidade.

O advogado orienta que, ao descobrir que foi vítima, o cliente deve registrar um boletim de ocorrência. Depois, deve abrir um procedimen­to no banco para contestar o débito e solicitar informaçõe­s como horário e local das compras,bemcomonom­eeendereço dos estabeleci­mentos. OUTRO LADO O Itaú Unibanco disse, em nota, que orienta seu clientes a se protegerem contra fraudes, “sempre ressaltand­o que o envio de motoboys ou ligações solicitand­o qualquer documento ou dado do cliente não são práticas do banco”.

O banco disse ainda que o caso de Mário Milanello está em análise e que responderá diretament­e ao cliente.

O Santander afirmou que “utiliza sistemas que identifica­m comportame­ntos diferentes dos habituais do cliente, gerando alertas e bloqueios para impedir as fraudes nestas situações”.

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Danilo Verpa/Folhapress O psicólogo Mário Milanello, 53, foi vítima do golpe e teve prejuízo de R$ 35 mil

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