Folha de S.Paulo

Juiz libera uso do WhatsApp depois de constatar ‘caos social’ no país

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DE SÃO PAULO

Na semana que vem, no dia 12, o juiz Marcel Maia Montalvão, que está na magistratu­ra desde 2004, completa um ano de atuação na Vara Criminal de Lagarto, cidade de 102,3 mil habitantes no interior de Sergipe que está construind­o seu primeiro shopping center e que viu a população —e a violência— escalarem nos últimos anos.

Montalvão ganhou a alcunha de inimigo número 1 do WhatsApp ao, em março, mandar prender um executivo do Facebook, e, agora, determinar que 100 milhões de usuários do aplicativo ficassem impedidos de usá-lo. Tudo como forma de pressionar a empresa a liberar informaçõe­s para investigaç­ões sobre uma quadrilha de tráfico de drogas.

Pode parecer uma medida extrema, de alguém que busca os holofotes, mas, segundo advogados, policiais e membros da administra­ção pública com quem a Folha conversou, são traços de um juiz muito empenhado em combater o crime.

“Ele tem perfil bastante contundent­e, personalid­ade forte, não mede esforços quando o tema é investigaç­ão”, disse Eduardo Maia, presidente da seccional de Lagarto da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Isso talvez explique a obstinação de Montalvão em conseguir a qualquer custo

EDUARDO MAIA

presidente da OAB de Lagarto os dados do WhatsApp a respeito da quadrilha de tráfico de drogas investigad­a pela Polícia Federal e que motivou o bloqueio ao aplicativo. “Ele gosta de produzir mais provas, de deixar processo bem robusto”, afirma Maia.

O combate ao tráfico se tornou um tema premente em Lagarto, e isso explica um pouco da fama que o juiz obteve na cidade em seu ano de atuação por lá.

Nos últimos anos, segundo relato de moradores, mortes relacionad­as a esse crime cresceram de forma espantosa na cidade, com a ocorrência de assassinat­os, às vezes à luz do dia. O município teria se tornando polo de passagem de traficante­s.

Em 2014, segundo dados preliminar­es do DataSUS, Lagarto teve uma taxa de 43 homicídios por 100 mil habitantes, índice 48% maior que a média nacional.

Por isso, a imagem de um magistrado “extremamen­te sério”, “enérgico”, “temido”, o “primeiro a chegar e o último a sair”, alguns dos elogios ouvidos pela reportagem, cai bem —mas também o obriga a andar com escolta.

Antes de ganhar projeção nacional por causa do app, Montalvão era conhecido principalm­ente por combates a crimes locais. No ano passado, mandou prender um ex-deputado acusado de desvio de recursos na Assembleia Legislativ­a do Estado.

Apesar da fama de durão, no trato pessoal, dizem advogados, trata igualmente “do presidente da República ao vendedor de picolé”.

Em audiências, costuma dar lições de vida a meninos infratores, dizendo que o crime não compensa. “Pense na sua mãe, no seu pai, busque trabalho”, costuma dizer ele, segundo relato de um outro defensor.

Ele usa sua história pessoal para tentar mudar o rumo dos garotos. “O juiz da Vara Criminal da cidade de Lagarto, que fala agora à população, com muito prazer e muita honra, é um filho de um engraxate”, disse ele em uma de suas únicas entrevista­s, ao jornalista Adailson Santos, da Progresso AM, em 2015.

“da função social do magistrado, passa conhecimen­tos sobre a vida, sua experiênci­as, e encaminha para projetos sociais

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Reprodução O juiz Marcel Maia Montalvão, de Lagarto (Sergipe)

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