Folha de S.Paulo

Deputado diz que procurador é seletivo nas acusações

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O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um dos líderes de uma célula que integra uma grande organizaçã­o criminosa que teria atuado em Furnas, empresa subsidiári­a da Eletrobrás.

A declaração consta no pedido feito pela Procurador­ia de abertura de um nova frente de apuração sobre Cunha na Lava Jato. A investigaç­ão sobre o caso de Furnas também atinge o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

“Pode-se afirmar que a investigaç­ão cuja instauraçã­o ora se requer tem como objetivo prepondera­nte obter provas relacionad­as a uma das células que integra uma grande organizaçã­o criminosa — especifica­mente no que toca a possíveis ilícitos praticados no âmbito da empresa Furnas. Essa célula tem como um dos seus líderes o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha”, alega Janot no pedido ao STF.

Segundo Janot, há elementos probatório­s que reforçam a delação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que apontou influência de Cunha na diretoria de Furnas.

“Sabemos que essa organizaçã­o criminosa é complexa e, ao que tudo indica, operou durante muitos anos e por meio de variados esquemas estabeleci­dos dentro da Petrobras e da própria Câmara dos Deputados, entre outros órgãos públicos. Embora estes ‘esquemas’ tenham alguma variação entre si, é certo que eles coexistem e funcionam dentrodeum­concertoma­ior”, completou o procurador.

O pedido de abertura de inquérito aponta que o peemedebis­ta foi responsáve­l por alterar a legislação do setor energético, em 2007 e 2008, para beneficiar seus interesses e do corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, a quem é ligado. À época, Furnas era presidida por Luiz Paulo Conde, indicado por Cunha.

A suspeita da Procurador­ia é que Cunha possa ter cometido crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por sua atuação envolvendo a subsidiári­a da Eletrobrás. HOTEL Janot citou a proximidad­e de Cunha e Funaro. “A relação entre Eduardo Cunha e Lúcio Bolonha Funaro é, também, bastante conhecida, conforme diversos elementos já apurados. Embora ambos neguem, tal relação já surgiu quando se verificou que Funaro pagava o hotel do parlamenta­r [em Brasília]”.

Recentemen­te, em denúncia ofertada contra Cunha, a PGR disse que Funaro utilizou de avião cedido pelo peemedebis­ta como contrapart­ida pelo pagamento de propina.

Cunha já é alvo de outros cinco processos no STF derivados de investigaç­ões da Lava Jato.

O deputado já foi transforma­do em réu pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro e foi denunciado em inquérito que apura a existência de contas secretas na Suíça, o que ele nega.

DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou envolvimen­to com qualquer irregulari­dade e acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ser seletivo nas acusações que têm feito relacionad­as à Operação Lava Jato.

“O procurador continua despudorad­amente seletivo com relação ao presidente da Câmara. Se o critério fosse, de fato, a citação na delação do senador Delcídio [do Amaral], ele deveria, em primeiro lugar, ter aberto inquérito para investigar a presidente Dilma, citada pelo senador por práticas de obstrução à Justiça”, declarou o peemedebis­ta, por meio de nota.

Cunha já é alvo de cinco inquéritos na Lava Jato.

Janot também solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que ele seja afastado da presidênci­a da Câmara, mas o tribunal até agora não tomou qualquer decisão a respeito.

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Pedro Ladeira/Folhapress O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante entrevista QUEBRA DE DECORO

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