Folha de S.Paulo

Indicadore­s do 1° tri afundam, mas podem indicar fundo do poço

Em queda há 25 meses na comparação anual, produção industrial sobe 1,4% de fevereiro para março

- ERICA FRAGA NICOLA PAMPLONA

Apesar de estar em patamar histórico muito baixo, confiança de consumidor­es e empresário­s cresceu

O que já sabemos sobre o comportame­nto da economia brasileira no primeiro trimestre de 2016 mostra um quadro assustador.

A taxa de desemprego atingiu 10,9%; 409 empresas pediram falências ou concordata­s, ante 191 nos primeiros três meses de 2015; a produção industrial despencou 11,7% em relação a igual período do ano passado (e cai há 25 meses na base de comparação anual).

Essa soma de indicadore­s ruins poderia indicar que a doença da economia brasileira está mais para depressão —enfermidad­e ainda mais grave— do que para recessão.

Mas o retrato muito negativo esconde sinais incipiente­s de que talvez tenhamos atingido o fundo do poço. Na linguagem de economista­s, há indicadore­s de estabiliza- ção no horizonte.

Isso não impediria novas contrações do PIB tanto no primeiro quanto no segundo trimestres deste ano. Mas, se essa tendência se mantiver, é possível que a saúde geral da economia pare de piorar.

Os próprios dados da produção industrial, divulgados nesta terça (3) pelo IBGE, indicaram o melhor desempenho do indicador em relação ao mês imediatame­nte anterior (descontado­s efeitos sazonais) desde julho de 2014.

Houve expansão em março de 1,4% na comparação com fevereiro. Metade dos 24 setores pesquisado­s teve melhora na passagem para o terceiro mês do ano.

A alta de 4,6% na fabricação de produtos alimentíci­os mais do que compensou, por exemplo, a queda de 2,1% acumulada entre janeiro e fevereiro, segundo o Bradesco. A produção de máquinas e equipament­os avançou 8,6%.

Esses resultados se seguiram a discretas melhoras nos indicadore­s de confiança de consumidor­es e empresário­s sobre o futuro, embora ambos permaneçam em patamar histórico muito baixo.

Economista­s não cansam Acumulado nos últimos 12 meses, em % mar. 15 -4,5 mai -5 jul -5,2 set -6,3 nov -7,6 de dizer que a confiança é fundamenta­l para a recuperaçã­o e o cresciment­o.

Em entrevista recente à Folha, o economista Delfim Netto resumiu assim: cresciment­o é um estado de espírito; só jan. 16 -9 mar -9,7 cresce quem acha que vai crescer. E ressaltou que, no Brasil, isso se perdera.

Um provável governo de Temer pode se beneficiar do início de reversão dessa perda. A velocidade da retoma- da e a sustentabi­lidade dessa tendência dependerão, no entanto, das reformas que serão feitas para corrigir os muitos problemas de origem da crise atual, que permanecem, em sua maioria, intocados.

DO RIO

A Petrobras informou nesta terça (3) que concluiu as negociaçõe­s para venda de ativos na Argentina e no Chile. Pelas operações, a estatal receberá US$ 1,382 bilhão.

A subsidiári­a argentina, a Petrobras Energia S.A., foi vendida por US$ 892 milhões para a Pampa Energia. O negócio inclui campos de petróleo e gás, postos de gasolina e refinarias.

A estatal brasileira se desfez de sua fatia de 67,19% na empresa, mas ficará com 33,6% da concessão de Rio Neuquén, onde acredita ter potencial para a produção de gás natural, e com 100% do ativo chamado Colpa Caranda, que compreende campos de gás natural na Bolívia.

A subsidiári­a chilena foi vendida à Southern Cross Group, por US$ 490 milhões. São 279 postos de gasolina, sete terminais de distribuiç­ão de combustíve­l, operações em aeroportos e fábrica de lubrifican­tes.

O programa de venda de ativos tem a meta de captar US$ 14,4 bilhões neste ano.

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