Folha de S.Paulo

As consequênc­ias econômicas de Dilma

- ALEXANDRE SCHWARTSMA­N COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo: Samuel Pessôa

O GOVERNO Dilma é o pior da República, talvez o pior da história. Não é fácil receber um país crescendo decentemen­te, contas públicas razoavelme­nte em ordem (com tarefas a cumprir, registre-se), histórico de inflação ao redor da meta, contas externas controlada­s e, em meros quatro anos, demolir esse legado, construído ao longo de mais de uma década por vários governos.

Não é por outro motivo que sua administra­ção, assim como seus cúmplices, tem imensa dificuldad­e para assumir a responsabi­lidade pelo desastre. Originalme­nte a desculpa era a crise externa, convenient­emente deixando de lado que o cresciment­o mundial de 2011 a 2014 foi igual ao registrado nos quatro anos anteriores, enquanto a relação entre os preços das coisas que exportamos e as que importamos (os termos de troca) foi a melhor da história recente, algo como 24% superior à sua média de 38 anos.

A desculpa agora é a oposição, que não teria compactuad­o com “as propostas de ajuste das contas públicas”, eufemismo para aumento de impostos, em particular a CPMF. Nas palavras da presidente, os opositores “são responsáve­is pela economia brasileira estar passando por uma grande crise”.

Nada é dito, claro, sobre o aumento dos gastos observado sob seu governo, muito menos sobre seu papel no extermínio (em 2005, ainda no governo Lula) da proposta de ajuste fiscal de longo prazo, formulada pela equipe de Antonio Palocci e fulminada por ela como se fosse uma “proposta rudimentar” sob o argumento de que “gasto corrente é vida”.

Pelo que me lembro, também não foi a oposição quem baixou, na marra, as tarifas de energia, medida elogiada à época por ninguém menos que Delfim Netto, o mesmo que hoje reconhece o erro da política, apenas se esquecendo de dizer que estava entre os que a aplaudiram.

Desconheço também qualquer papel da oposição na decisão de aumentar o volume de crédito do BNDES em R$ 212 bilhões (a preços de hoje) entre 2010 e 2014, valor integralme­nte financiado por créditos do Tesouro Nacional, que se endivi- dou no mesmo montante para beneficiar um punhado de setores e empresas selecionad­as por critérios muito pouco transparen­tes.

Da mesma forma, a oposição não parece ter sido ouvida quando o governo decidiu segurar artificial­mente os preços dos combustíve­is, levando não apenas a Petrobras a uma situação delicada do ponto de vista de seu endividame­nto (limitando assim sua capacidade de investimen­to) como também, de quebra, desarticul­ando o setor sucroalcoo­leiro.

A lista poderia se estender ainda mais, tendo como fator comum a ausência de deliberaçã­o da oposição em decisões que, ao final das contas, caíam todas na esfera go- vernamenta­l. Não deve restar dúvida de que há um único responsáve­l pelo desastre econômico em que o país se encontra: o governo federal, sob comando da presidente Dilma Rousseff.

E que não se exima o PT, que apoiou entusiasti­camente a política econômica (assim como os keynesiano­s de quermesse que hoje fingem não ter nada a ver com assunto), mas se opõe ferozmente às tentativas de corrigir a Previdênci­a ou atacar vinculaçõe­s orçamentár­ias.

A oposição não é grande coisa, mas há apenas um culpado pela crise: o atual governo, presidente à frente e PT no apoio. O resto é apenas covardia e (mais) mentira para a campanha de 2018.

A oposição não é grande coisa, mas há só um culpado pela crise: o atual governo, com a presidente à frente

ALEXANDRE SCHWARTSMA­N,

www.schwartsma­n.com.br

@alexschwar­tsman aschwartsm­an@gmail.com

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