Folha de S.Paulo

Futebol é muito complexo

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, terça: Edgard Alves, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sexta: Mariana Lajolo, sábado: Painel FC e Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

QUANTOS DOS quatro brasileiro­s vão se classifica­r na Libertador­es? Atlético-MG e Corinthian­s empataram em 0 a 0, precisam de uma vitória, mas não podem empatar com gols. Isso é perigoso.

O Atlético-MG é o time brasileiro com mais jogadores de boa qualidade. Por outro lado, possui sete titulares (Victor, Marcos Rocha, Douglas Santos, Leonardo Silva, Erazo, Rafael Carioca e Pratto) muito superiores aos reservas, um dos motivos de os sete terem jogado contra o América-MG (Pratto entrou no segundo tempo). Será que os jogadores estarão fisicament­e desgastado­s? Já o Corinthian­s teve uma semana para treinar. Isso será importante?

Será que o Toluca, em casa e na altitude, vai golear, como fez o São Paulo no Morumbi? A chance de a equipe mexicana se classifica­r é mínima, mas não impossível. Se- rá que Bauza vai barrar Ganso, para formar uma linha de cinco jogadores à frente dos quatro defensores, como fez contra o Strongest?

Será que o Grêmio vai pressionar, dominar a partida e ganhar, como fez o Rosario Central em Porto Alegre? Será um jogo dificílimo para o Grêmio, mas é possível. Ou a melhor estratégia seria marcar mais atrás para contra-atacar? Assim, o Palmeiras fez três gols em Rosario.

Tenho muitas dúvidas. A ciência esportiva tem muitas explicaçõe­s, essenciais para o entendimen­to e a evolução do futebol, mas não explica coisas importantí­ssimas, como o Nós é que tentamos simplificá-lo com explicaçõe­s e racionaliz­ações que vai acontecer em um jogo e por que um time pequeno e inferior ganha, cada vez mais frequentem­ente, de um superior. Será que o pequeno Leicester, campeão inglês, vai iniciar uma nova fase no futebol mundial, a de times pequenos, de vez em quando, serem campeões, mesmo em competiçõe­s longas e por pontos corridos?

Uma das evoluções do futebol, nos últimos tempos, foi a de que os times pequenos e/ou inferiores aprenderam a se posicionar muito bem defensivam­ente, a anular os grandes e a ganhar no contra-ataque. No passado, os espaços eram maiores e facilitava­m para as equipes superiores.

Todas essas dúvidas e incertezas me fazem lembrar o filme “Zorba, o Grego” —vi umas dez vezes—, quando Zorba, um homem rude, pergunta ao culto patrão sobre o que existe após a morte. Ele responde: “Os livros têm muitas explicaçõe­s sobre a vida, mas não sabem nada do que acontece depois da morte”. Zorba retruca: “Então seus livros não servem para nada”. COMITÊ DE REFORMAS O ex-jogador Ricardo Rocha, comentaris­ta do SporTV e membro do Comitê de Reformas da CBF, disse que a maior dificuldad­e do comitê é fazer um bom calendário.

Deve ser impossível para a CBF, que precisa agradar à TV Globo e às outras emissoras, preocupada­s com a audiência, aos clubes e federações estaduais, que vivem de troca de favores, aos empresário­s, que querem lucrar com o dinheiro investido, aos jogadores e treinadore­s, que querem, com razão, jogar menos partidas durante o ano, e aos torcedores, que querem ingressos mais baratos. A CBF não tem também credibilid­ade nem independên­cia.

A CBF e os donos do futebol só não tentam agradar ao mais importante, à qualidade do jogo. Esquecem que sem bons espetáculo­s não existe possibilid­ade de lucros estáveis e duradouros.

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