Folha de S.Paulo

CD de Marisa Monte extrai novidades do fundo do baú

Cantora seleciona 13 faixas gravadas por ela em álbuns de outros artistas

- THALES DE MENEZES

‘Coleção’ marca fim de contrato com gravadora; artista diz se sentir livre para lançar mais canções fora dos discos físicos

Marisa Monte conseguiu transforma­r o que seria “mais do mesmo” em “coisa nova”. Diante da necessidad­e de lançar uma coletânea prevista em contrato com a gravadora Universal, converteu o projeto em um garimpo de canções que fez fora de seus álbuns oficiais.

“Coleção”, que chega cinco anos depois de seu último disco de inéditas (“O Que Você Quer Saber de Verdade”), é um baú de quase raridades.

Em entrevista à Folha, ao destacar que o novo registro encerra um ciclo —“O último disco dentro de uma grande gravadora”—, Marisa sente que o modelo atual de consumo de música a deixa livre do formato do álbum.

“Coleção” não merecerá uma turnê. Marisa segue com shows raros, como o que fez na segunda (2), numa escola ocupada por estudantes no Rio. “Apesar de ser um momento de muita inseguranç­a, pode ser um período rico em mudanças. Acho que estamos vendo um esgotament­o do modelo de gestão pública.” Entressafr­a Era previsto um “best of” no meu contrato, mas não tinha vontade de reunir sucessos. Cada projeto é uma coisa com a qual preciso me envolver. Tive a ideia de reunir essas músicas que estavam meio pulverizad­as, coisas que muitos fãs e amigos talvez nem tivessem ouvido. É um disco de entressafr­a. Projeto de fim de ciclo, último álbum dentro de uma grande gravadora. Baú Sou “acumulativ­a”, vou enchendo o baú e de repente tenho 30 músicas inéditas que posso distribuir para outros intérprete­s ou pegar algumas para meu registro autoral. Não tenho nenhum outro disco em vista, estou lançando este. O fim do álbum O álbum é um formato derivado do LP, mas hoje, com o digital, a gente se libertou desse formato. Posso fazer duas músicas e lançar na rede. Acho que daqui para frente outras opções de formato vão ficar cada vez mais naturais. Parcerias Tem umas coisas que eu desencavo. Por exemplo, “Já Sei Namorar”, dos Tribalista­s (seu projeto com os parceiros frequentes Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown). Eu mandei duas músicas para o Arnaldo em 1991, numa fitinha. Uma ele fez, “Beija Eu”. A outra, não. Quando fui gravar no disco do Arnaldo, em 2001, antes dos Tribalista­s, levei umas coisinhas, entre elas aquela que tinha mandado para ele. E em 15 minutos saiu “Já Sei Namorar”. Ficou perdida num cassete por dez anos. Método Sou preguiçosa para escrever, mas o Arnaldo escreve. Eu pego o violão, e ele pega o papel e a caneta. Arnaldo é mesmo o metódico. O Brown é um cara meio mediúnico, vai fechando o olho, e a música jorra. É lindo de ver, é intuitivo. Canção nova Estou sempre fazendo alguma coisa, se pegar meu celular vai estar lotado de músicas começadas. Eu e Arnaldo temos uma canção sobre a água, estamos terminando. “Vai, Cantareira, canta na calha, abre a torneira e chora/ água, traga pra mim um pingo d’água.” Shows Depois da última turnê, montei um show pequeno, eu e quatro músicos. É um show de férias, para fazer aqui e ali. Carreira A relação com o público ainda depende de você. Encontrar as pessoas, fazer o show em barzinho, teatrinho, teatrão. Hoje é muito mais fácil gravar, mas é muito mais difícil encontrar o seu público, a informação está pulverizad­a no digital, na nuvem. Essa construção da carreira junto ao público continua sendo fundamenta­l. THALES DE MENEZES

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