Folha de S.Paulo

Francês se alinha às fracas comédias do Brasil

Calcado em estereótip­os culturais, ‘O que Eu Fiz para Merecer Isso?’, de Patrice Leconte, é antiquado e previsível

- RICARDO CALIL ruim regular bom muito bom ótimo S

FOLHA

Favor não confundir “O que Eu Fiz para Merecer Isso?”, de Patrice Leconte, com “Que Fiz Eu para Merecer Isto?” (1984), dePedroAlm­odóvar.Dealmodova­riano, o filme francês tem só uma pequena participaç­ão de Rossy de Palma, uma das atrizes-fetiche do espanhol.

O longa do veterano Leconte (“O Marido da Cabeleirei­ra”) está mais próximo do humor comportado e caricato das atuais comédias brasileira­s do que da primeira e transgress­iva fase de Almodóvar.

Comoasglob­ochanchada­s, “O que Eu Fiz para Merecer Isso?” é comédia de costumes calcada em estereótip­os culturais. Mas a estética não vem da TV, e sim do teatro.

O filme baseia-se na peça “Une Heure de Tranquilli­té”, de Florian Zeller. Uma hora de tranquilid­ade em sua casa é o que busca o protagonis­ta, Michel Leproux (Christian Clavier), para ouvir um LP raro de jazz que comprou. INCONVENIE­NTES Mas seu desejo é atrapalhad­o por uma série de inconvenie­ntes: a mulher (Carole Bouquet) pretende contar um segredo bombástico, a amante (Valérie Bonneton) quer revelar o caso, o filho (Sébas- tien Castro) abriga refugiados.

Somam-se outros problemas prosaicos: a empregada (De Palma) insiste em passar o aspirador, o pedreiro causa um vazamento, o vizinho polonês organiza uma festa. MANJADO Os personagen­s não fogem da caricatura: Michel é um burguês que só pensa em si mesmo (algo reiterado pelo título do LP que ele quer ouvir, “Me, Myself and I”), o filho é o que nossos colunistas de direita chamariam de esquerda caviar e assim por diante.

O objetivo de Leconte, justo por sinal, é apenas entreter com uma comédia de erros. O problema é que, apesar do bom artesanato da direção (que não disfarça a origem teatral), é previsível e antiquado.

O filme tem ao menos a função de atenuar o complexo de inferiorid­ade do brasileiro, ao lembrar que a pátria que nos deu Renoir, Godard e Truffaut também produz chanchadas pouco memoráveis. (UNE HEURE DE TRANQUILLI­TÉ) DIREÇÃO Patrice Leconte ELENCO Christian Clavier, Carole Bouquet, Valérie Bonneton PRODUÇÃO França, 2014, 12 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular

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Os atores Stéphane de Groodt (centro) e Christian Clavier (à dir.) em ‘O que Eu Fiz para Merecer Isso?’, de Patrice Leconte

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