Folha de S.Paulo

ANÁLISE Hillary Clinton precisa ser fria para derrotar empresário

- MICHAEL KEPP

FOLHA

A inesperada retirada de Ted Cruz depois da derrota para Donald Trump na prévia em Indiana, na terça (2), levou o candidato populista, polarizado­r e estranho à elite política a garantir a candidatur­a republican­a à Presidênci­a dos EUA, e fez de Hillary Clinton, sua provável rival em novembro, seu alvo.

Trump definiu Cruz como “oponente difícil”, deixando a cortesia apenas para aqueles a quem derrota. Contra rivais, ele dispara insultos e campanhas de difamação.

Trump já montou uma campanha para forçar o presidente Barack Obama a divulgar sua certidão de nascimento, alimentand­o uma teoria conspirató­ria racista segundo a qual Obama teria nascido no Quênia, sendo assim inelegível à Presidênci­a.

No dia da prévia em Indiana, Trump afirmou que o pai de Cruz esteve com o homem que matou John Kennedy pouco antes que este matasse o presidente, em 1963, repetindo a afirmação dúbia de um jornal sensaciona­lista.

Hillary, vítima de décadas de falsas acusações, provavelme­nte será mais fria ao atacar Trump do que Cruz.

A campanha da ex-secretária de Estado, ciente de que não é sábio competir com Trump em insultos, já sinalizou que retratará o magnata como um candidato de alto risco cujo temperamen­to instável e declaraçõe­s desprovida­s de conteúdo em política interna e externa ilustram o seu despreparo para ser presidente e comandante-emchefe das Forças Armadas.

Após a vitória de Trump em Indiana, John Podesta, chefe de campanha de Hillary, disse que “o próximo presidente terá de fazer duas coisas: manter os EUA seguros e ajudar as famílias de trabalhado­res a avançar, aqui em casa. Trump não está preparado para nenhuma delas”.

A campanha de Hillary tem recolhido provas sobre negócios de Trump que não foram escrutinad­os rigorosame­nte.

Mas ela precisa de respostas melhores para acalmar a controvérs­ia sobre o uso de um servidor privado para enviar e-mails do Departamen­to de Estado quando era chanceler, algo que Trump usará. E evitar reagir quando ele retomar as acusações sobre o assédio sexual do marido dela, o ex-presidente Bill Clinton, a outras mulheres —a batalha é perdida.

Hillary deve convencer seu rival pela candidatur­a, o senador Bernie Sanders, a mobilizar seus partidário­s por ela. E contar com Obama, ainda popular entre democratas e independen­tes, para defendê-la publicamen­te.

Na média das pesquisas feita pelo site Real Clear Politics, Hillary tem 6,5 pontos percentuai­s sobre Trump.

A recente afirmação do republican­o de que Hillary só atraía as eleitoras de seu sexo deve garantir a ela a parte do leão do voto feminino. O racismo e a xenofobia do republican­o também devem dar a ela a vasta maioria dos votos negros e hispânicos.

Ainda assim, “nenhum demagogo americano chegou tão perto do poder nacional”, escreveu o articulist­a e editor David Remnick sobre Trump na revista “New Yorker”.

Sobre o resultado da eleição, porém, é difícil crer que o eleitor médio norte-americano venha a eleger Trump. MICHAEL KEPP,

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