Taiwanês eleva o gênero das artes marciais à contemplação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Após “O Cavalo de Turim”, de Béla Tarr, e “É o Amor”, de Paul Vecchiali, estreia o terceiro grande filme no circuito paulistano em 2016: “A Assassina”, de Hou HsiaoHsien, uma das sensações do Festival de Cannes 2015 (Hou ganhou o prêmio de direção).
É o esperado retorno do grande cineasta taiwanês após um hiato de oito anos. Seu filme anterior havia sido realizado na França, com Juliette Binoche como protagonista: “A Viagem do Balão Vermelho”, inspirado em “O Balão Vermelho”, de Albert Lamorisse.
Hou Hsiao-Hsien foi um dos maiores responsáveis pela celebração do cinema oriental dos anos 1990, febre que atingiu também a primeira metade da década seguinte.
Filmes como “Adeus ao Sul” (1996), “Flores de Xangai” (1998) e “Millennium Mambo” (2001) consolidaram seu nome como um dos mais importantes autores do cinema contemporâneo.
Este retorno, então, é mesmo um acontecimento. Também porque é sua primeira incursão pelo universo do “wuxia”, gênero tipicamente chinês centrado nas artes marciais, cujo mais famoso expoente internacional é “O Tigre e o Dragão”, de Ang Lee.
“A Assassina”, contudo, é bem diferente de seu conterrâneo. Para começar, as lutas não são mirabolantes como as que fizeram a força do gênero, com personagens pulando nas árvores como gatos no cio.
Seu ritmo é muito mais contemplativo que o habitual no “wuxia”, embora esteja longe da ousadia de um Kenji Mizoguchi, que em 1941 realizou um filme de samurais, “Os 47 Ronin”, com quatro horas de duração e praticamente sem cenas de ação.
Finalmente, Hou leva o gênero ao seu estilo baseado em texturas, e não o contrário. Ele não se submete aos códigos desse tipo de filme, a não ser em poucos momentos, necessários para o desenvolvimento de suas preocupações estéticas e narrativas.
Podemos imaginar seu “Flores de Xangai” levado do ambiente da prostituição de luxo para as intrigas políticas, ou o monumental painel de “A Cidade do Desencanto”, que dirigiu em 1989, traduzido para o declínio da Dinastia Tang, no século 7 chinês.
Na trama, uma assassina profissional de incríveis habilidades (Shu Qi, a bela atriz fetiche do diretor) deve matar um influente político. Mas convém um alerta. Em um filme de Hou, quem se guia pela trama pode perder o essencial: o cinema. (SÉRGIO ALPENDRE) (NIE YIN NIANG) DIREÇÃO Hou Hsiao-Hsien ELENCO Chen Chang, Qi Shu, Yun Zhou PRODUÇÃO Taiwan/China/Hong Kong/França, 2015, 12 anos QUANDO estreia nesta quinta (5) AVALIAÇÃO ótimo (MARAVIGLIOSO BOCCACCIO) DIREÇÃO Paolo e Vittorio Taviani ELENCO Lello Arena, Paola Cortellesi PRODUÇÃO Itália, 2015, 14 anos QUANDO estreia nesta quinta (5) AVALIAÇÃO bom