Folha de S.Paulo

Brasileiro­s presos falaram sobre bomba, diz procurador

SEGURANÇA Um dos dois foragidos do grupo foi preso no Mato Grosso; agora são 11 detidos

- Esporte B11

Os suspeitos de elo com o terrorismo presos pela PF compartilh­avam materiais sobre fabricação de bomba, disse o procurador responsáve­l pela investigaç­ão. Os detidos, contou, afirmavam que a Rio-16 era a chance de chegar ao paraíso. Um dos dois suspeitos foragidos se entregou. O FBI (polícia federal dos EUA) colaborou na apuração.

Os suspeitos de associação com terrorismo presos durante a Operação Hashtag compartilh­avam materiais que ensinavam a construir uma bomba e diziam que a Olimpíada do Rio era a oportunida­de de chegar ao paraíso, de acordo com o procurador responsáve­l pela investigaç­ão, Rafael Brum Miron.

“Todos eram bem agressivos e falavam a mesma coisa: ‘Temos que matar infiéis, aproveitar a Olimpíada para irmos para o paraíso’. Também repassaram entre eles instruções e fórmulas para fazer bomba”, disse à Folha.

Nesta sexta (22), Valdir Pereira da Rocha, um dos dois suspeitos foragidos, se entregou na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia (leia texto na pág. B12). Ele se juntará aos outros dez detidos no dia anterior levados para o presídio de segurança máxima no Mato Grosso do Sul. Com isso, resta apenas um foragido, Leonide El Kadre de Melo. LOBOS SOLITÁRIOS Segundo o procurador, em vários momentos, os integrante­s do grupo autointitu­lado Defensores da Sharia (lei islâmica) frisaram a necessidad­e de atuarem isoladamen­te, reforçando o perfil de lobos solitários.

Três deles chamam mais a atenção dos investigad­ores: Marco Mario Duarte, Alisson Luan de Oliveira e El Kadre. O trio era o que mais propagande­ava ações violentas em prol do Estado Islâmico nas redes sociais, de acordo com as investigaç­ões.

Miron contou que o trabalho foi facilitado pela cooperação do FBI (polícia federal norte-americana), que enviou ao Brasil os nomes que os integrante­s do grupo usavam na internet.

Outro elemento importante na operação é um e-mail anônimo, contendo diálogos dos suspeitos, que chegou às mãos da Polícia Federal.

Parte dos investigad­os também publicou em sites abertos informaçõe­s sobre suas relações com o islamismo, entre elas um comunicado de que havia passado pelo chamado batismo virtual.

Questionad­o sobre como avaliou o fato de dois ministros (Justiça e Defesa) terem se referido aos suspeitos como “amadores”, Miron não discorda, mas ressalta que isso não significa que não representa­ssem ameaça.

“Não existe suicida experiente. Ninguém será preso por 30 dias se não oferecer risco. Quem é profission­al disso [terrorismo]? Eles eram muito voluntaris­tas, diziam ‘vamos fazer isso e aquilo.”

O membro do Ministério Público Federal ponderou, no entanto, que o grupo não possuía poder financeiro e, além disso, as investigaç­ões não mostram que eles estavam prontos a agir imediatame­nte. “Não temos ninguém comprando passagem para Rio, por exemplo. Nenhum deles era rico, não tinham recursos. Queriam viajar para a Síria e não tinham dinheiro”, afirmou Miron. ORGANIZAÇíO elaborado pela PF que embasou as prisões, buscas e conduções coercitiva­s na quinta-feira, o grupo manifestou repetidas vezes que “todo muçulmano tem que atacar os alvos da coalizão, onde quer que estejam”, fazendo referência ao conjunto de países que combatem o Estado Islâmico, como os Estados Unidos e Israel.

O documento contém os nomes de nascimento e os nomes em árabe usados pelos presos —não se sabe ainda se todos eles foram batizados na religião islâmica.

Revela também que muitos deles se dizem jihadistas e declaram o desejo de migrar para o califado (território que tem como grande líder o califa, sucessor do profeta Maomé, regido pela lei islâmica)

O juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, responsáve­l por autorizar a operação, não quis comentar o conteúdo do relatório da Polícia Federal, que está sob sigilo, mas, para ele, “não há uma organizaçã­o piramidal esclarecid­a”.

“Ainda não é possível mapear a organizaçã­o desse grupo, o que concluímos é que se comunicava­m, mas a estrutura ainda não está bem definida”, explicou.

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Reprodução Marco Mario Duarte, um dos presos, que se apresentav­a como Zaid Duarte, com arma de brinquedo, usada em paintball

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