Folha de S.Paulo

Empurrão para o impeachmen­t

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BRASÍLIA - “Não autorizei pagamento de caixa 2 a ninguém. Se houve pagamento, não foi com o meu conhecimen­to”, reagiu Dilma Rousseff à confissão do marqueteir­o João Santana de que recebeu por debaixo do pano US$ 4,5 milhões da campanha dela de 2010.

A presidente afastada recorre a poucos caracteres para adotar a estratégia lulista de defesa: a falcatrua pode até ter ocorrido, mas se de fato ocorreu, foi sem a ciência do seu maior beneficiár­io — no caso, a própria Dilma, eleita presidente e sucessora de Lula naquele ano.

No depoimento ao juiz Sérgio Moro na quinta (21), Mônica Moura, mulher de João Santana, contou que inventou, na ocasião da prisão do casal, a versão de que recebera os US$ 4,5 milhões como um pagamento de uma campanha feita no exterior.

Alegou que escondeu a informação de que era caixa 2 da campanha de Dilma para não incriminar a petista em meio ao processo político em curso contra ela. “As coisas que estavam acontecend­o em torno da presidente Dilma, não preciso falar sobre isso, todos sabem”, disse. “Eu queria apenas poupar de piorar a situação do que estava acontecend­o naquele momento”, ressaltou Mônica.

O casal foi preso no dia 23 de fevereiro. Na época, o debate sobre o impeachmen­t circulava — novamente — sob temperatur­a morna, num certo estado de dormência no Congresso.

Aquela mentira contada por Mônica Moura aos investigad­ores pode ter ajudado de alguma maneira a adiar a saída temporária de Dilma, mas a revelação agora do caixa 2, mesmo que tardia, enfraquece uma presidente afastada, abandonada por aliados, e vivendo dias de isolamento no Alvorada.

A pouco mais de um mês do julgamento do impeachmen­t no Senado, João Santana e Mônica Moura contribuem politicame­nte para tornar ainda mais remota a chance de retorno ao Palácio do Planalto da cliente que ajudaram, por duas vezes, a ser eleita presidente da República.

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