Folha de S.Paulo

Maia admite acordo para enterrar CPI que investiga empresas

Preocupada­s com os rumos da comissão, siglas como PSDB, DEM e PSB pediram o fim das apurações

- DANIELA LIMA AGUIRRE TALENTO

Grandes empresário­s viraram alvo da comissão; vicepresid­ente da CPI denunciou achaque

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reconheceu à Folha que decidiu revogar a prorrogaçã­o dos trabalhos da CPI do Carf (Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais) e determinar que a apuração seja encerrada na primeira semana de agosto para cumprir um acordo firmado às vésperas de sua eleição para o cargo, em 15 de julho.

Órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, o Carf é responsáve­l por julgar autuações aplicadas pela Receita Federal aos contribuin­tes. A CPI, portanto, focava na atuação de empresas.

O acerto para encerrar as investigaç­ões havia sido fechado na presença de Maia pelo então presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), com integrante­s de partidos como o DEM, o PSDB e o PSB. Maranhão depois recuou e acabou dando um prazo extra de 60 dias à CPI.

O presidente recém-eleito, entretanto, decidiu manter o que havia sido acordado e publicou ato revogando a prorrogaçã­o da CPI e determinan­do que os últimos 26 dias de trabalho do colegiado fossem dedicados apenas à votação de seu relatório. Seu ato passou a ser alvo de questionam­entos.

Integrante­s da CPI ligados ao chamado “centrão”—aglomerado de partidos como o PP, PR e PSD— dizem que a CPI deve, ao menos, usar o resto do prazo para tomar depoimento­s de personagen­s já citados na investigaç­ão.

O presidente da CPI, Pedro Fernandes (PTB-MA), esteve com Maia na última terça e pediu que ele autorizass­e novos depoimento­s. Em outra frente, o PSOL tem dito que a Câmara poderá ser acusada de agir para proteger grandes empresário­s caso Maia mantenha sua decisão. POLÊMICA A diversidad­e dos questionam­entos reflete a pluralidad­e de interesses afetados pela CPI. A investigaç­ão parlamenta­r nasceu após a Polícia Federal deflagrar a Operação Zelotes, que investiga a venda de sentenças no Carf.

Segundo a PF, conselheir­os que atuam no órgão cobravam propina de empresário­s em troca de abatimento de multas fiscais.

Pesos pesados do empresaria­do nacional entraram na mira da CPI, como Safra, Gerdau e Bradesco. Ao mesmo tempo, cresceram rumores de que integrante­s da CPI estavam pedindo vantagens a investigad­os para anistiá-los de depoimento­s na comissão.

A afirmação de que havia achaque na CPI foi verbalizad­a por um dos vice-presidente­s da comissão, o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), ao jornal “O Globo”. A fala fortaleceu corrente liderada pelo PSDB, DEM e PSB que vinha condenando o andamento dos trabalhos na CPI.

“Alguns líderes de partido fizeram uma reunião com Maranhão na qual, preocupado­s com os rumos da CPI, sugeriram que a prorrogaçã­o fosse usada para votar o relatório final. Foi uma decisão coletiva e, se tiver que ser revista, será revista coletivame­nte também”, disse Maia.

Deputados do PSDB e do DEM procurados pela Folha admitiram ter patrocinad­o os pedidos de encerramen­to dos trabalhos. José Carlos Aleluia (DEM-BA) afirmou que “ninguém blindou empresa nenhuma” e que integrante­s da comissão ficaram preocupado­s após boatos de que parlamenta­res estariam achacando empresário­s. “Colocaram em dúvida a conduta da CPI e não quero ver meu nome ligado a isso”, disse Aleluia.

Líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA) disse que os tucanos na CPI “confiam nas investigaç­ões que estão sendo feitas pela PF, sem prejuízo da atividade parlamenta­r”.

 ?? Alan Marques - 20.jul.16/Folhapress ?? O presidente eleito da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista no Salão Verde do Congresso
Alan Marques - 20.jul.16/Folhapress O presidente eleito da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista no Salão Verde do Congresso

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