Folha de S.Paulo

Alemães conviviam com a sensação de que poderiam ser o próximo alvo

- JULIANO MACHADO

A sequência de recentes atentados em países vizinhos trouxe aos alemães a sensação, ainda que não externada por um comportame­nto paranoico, de que eles poderiam ser o próximo alvo.

As circunstân­cias do que houve em Munique eram pouco claras até a noite desta sexta (22), o que levou a polícia a adotar justificad­a cautela. Não se sabia se o atirador tinha vínculos com o extremismo islâmico, suspeita imediata diante dos últimos episódios na Europa.

O relato de que uma testemunha ouviu gritos xenófobos de um dos envolvidos também levantou a hipótese de extremismo de direita.

Seja qual for o desfecho da investigaç­ão, Munique expôs uma tensão latente na Alemanha. De um lado, a preocupaçã­o de que a ameaça externa do Estado Islâmico, cristaliza­da na França e na Bélgica, chegasse a solo alemão.

De outro, o delicado convívio com os mais de 1,2 milhão de refugiados vivendo no país —o partido AfD teve expressivo desempenho nas eleições regionais com sua plataforma anti-imigração.

Na segunda (18), o ataque de um adolescent­e afegão a um trem deu mais munição aos insatisfei­tos com o fluxo migratório, pois ele havia pedido refúgio à Alemanha.

Depois do atentado em Bruxelas, em março, um site ligado ao EI conclamava muçulmanos na Alemanha a fazer o que os “irmãos da Bélgica” fizeram, como represália à participaç­ão alemã na coalizão contra a facção.

Uma imagem do prédio onde fica o gabinete da chanceler Angela Merkel aparecia como sugestão para os radicais. O ministro do Interior, Thomas de Maizière, disse à época não haver prova de planejamen­to de ação terrorista.

O governo também confiava na eficiência do seu serviço de contraterr­orismo. Entre outras ações, a inteligênc­ia do país havia obtido milhares de fichas de possíveis militantes do EI.

Além disso, analistas de segurança, entre eles alguns consultore­s do governo, avaliavam que a Alemanha estava menos vulnerável a radicais islâmicos internos pelo fato de não possuir a herança do colonialis­mo árabe – um dos motores do ressentime­nto de imigrantes com a antiga metrópole, como é o caso na França.

De dentro ou de fora, o atirador de Munique desfez a já frágil impressão de que os alemães poderiam ficar ao largo do mal que os rondava havia algum tempo.

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