Folha de S.Paulo

País é assolado por gangues, e homicídios disparam

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Apesar de a guerra civil ter terminado nos anos 1990, El Salvador vive novamente um dos momentos mais violentos de sua história. Desta vez, o confronto é entre gangues formadas nos EUA por imigrantes fugidos do conflito em seu país natal.

Deportados em massa de volta para a América Central durante a gestão Bill Clinton (1993-2001) formaram as agrupações Mara Salvatruch­a (MS-13) e Barrio-18.

Desde então, as duas facções vivem um confronto que ultrapassa fronteiras e soma mais de 70 mil membros em El Salvador, Honduras e Guatemala —países cujos índices de homicídios estão entre os mais altos do mundo.

O rastro de violência e sangue deixado por elas é a principal motivação citada pelos imigrantes que cruzam a fronteira dos EUA, legal e ilegalment­e, todos os dias.

Apesar de se tratar de um problema de mais de 20 anos, o conflito vem se acirrando desde 2014, quando uma tentativa de estabelece­r trégua entre os dois bandos, mediada pelo governo, falhou. A taxa de homicídios do país foi, então, para as alturas.

Com apenas 6,3 milhões de habitantes, El Salvador passou a ter um assassinat­o por hora durante os meses entre junho e agosto de 2015, por exemplo.

A partir daí, a taxa oficial de mortos se estabilizo­u em mais de cem homicídios para cada 100 mil habitantes, um recorde na região. Hoje, trata-se de um dos lugares mais violentos do mundo depois das zonas considerad­as efetivamen­te em guerra.

As estimativa­s oficiais indicam que mais de metade do território esteja sob influência desses grupos, que além das mortes por disputa de território, extorquem comerciant­es, fazendeiro­s e transporta­dores de mercadoria­s.

Paralelame­nte, as gangues desenvolve­ram uma espécie de marca com muito apelo à juventude.

Seus integrante­s têm o corpo coberto de tatuagens, além de identifica­rem-se também com um conjunto de músicas e de ícones populares jovens. FAROL Em meio à turbulenta violência do país, um meio jornalísti­co vem se destacando por dar publicidad­e às atrocidade­s ocorridas em território salvadoren­ho.

Trata-se do site “El Faro”, vencedor do prêmio de excelência da Fundación Nuevo Periodismo, criada por Gabriel García Márquez, na edição deste ano.

Um de seus jornalista­s, Óscar Martínez, autor de dois livros sobre imigração e violência na região, também ganhou, na semana passada, o prestigiad­o prêmio Maria Moors Cabot, da Universida­de Columbia, de Nova York.

“Aqui em El Salvador ninguém comenta nossos prêmios. Eles não são notícia em nenhum meio, o que dá a medida da seriedade da nossa situação”, disse à Folha um dos fundadores do site, o jornalista Carlos Dada.

“Mas eu fico feliz de saber que a repercussã­o internacio­nal tem sido grande, e isso é importante para que a realidade seja conhecida.” (SC)

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