Folha de S.Paulo

Receita menor e alta do gasto fazem governo rever projeção

Temer queima reservas para evitar deficit maior do que a meta do ano

- Colaborou MARIANA CARNEIRO, de São Paulo MACHADO DA COSTA VALDO CRUZ

Se não houver reação da economia, governo poderá ser obrigado a aumentar impostos ou cortar despesas

O fraco desempenho da arrecadaçã­o de impostos e os gastos aprovados nos primeiros dois meses da gestão do presidente interino, Michel Temer, levaram o governo a queimar quase a totalidade das reservas que havia criado no Orçamento para evitar um novo bloqueio de gastos.

Criadas pela nova equipe econômica, essas reservas somavam R$ 18,1 bilhões e, segundo o Ministério do Planejamen­to, serão reduzidas em R$ 16,5 bilhões para que a meta fiscal possa ser cumprida.

Se o governo não tivesse feito essas reservas, criadas exatamente para compensar riscos de frustração de receitas e aumento de gastos obrigatóri­o, ele seria obrigado a fazer cortes no Orçamento para evitar que a meta de fechar o ano com deficit de R$ 170,5 bilhões seja descumprid­a.

Agora, com as reservas quase esgotadas, a própria equipe econômica admite que novas frustraçõe­s de arrecadaçã­o e aumentos de gastos terão de ser compensado­s com medidas de aumento de receitas ou cortes efetivos nos gastos dos ministério­s.

RAUL VELLOSO especialis­ta em contas públicas

O Ministério do Planejamen­to reduziu em R$ 10,8 bilhões a previsão para a arrecadaçã­o deste ano. O buraco criado por essa frustração só não é maior porque pode ser compensado pela redução automática das transferên­cias de recursos que a União repassa a Estados e municípios.

O outro fator que pressionou as contas do governo foi o aumento dos gastos obrigatóri­os com benefícios da Previdênci­a Social, de R$ 4,5 bilhões, e com as despesas de pessoal, de R$ 1,1 bilhão.

Os gastos com pessoal aumentaram com a concessão de reajustes salariais aprovados pelo Congresso com a concordânc­ia do novo governo. Além disso, houve o socorro financeiro de R$ 2,9 bilhões ao governo do Rio, para a realização da Olimpíada.

Somados outros aumentos de gastos, as despesas obrigatóri­as aumentaram em R$ 8,6 bilhões, apesar do discurso de austeridad­e adotado pelo governo Michel Temer. INCERTEZAS Em maio, quando o governo definiu a meta deste ano e criou as reservas, havia incertezas sobre os gastos do governo com o socorro a Estados e municípios endividado­s, e sobre a capacidade de arrecadaçã­o do programa criado para estimular a repatriaçã­o de recursos mantidos irregularm­ente no exterior.

Para o economista Raul Velloso, especialis­ta em contas públicas, o expediente empregado pela equipe econômica não é inédito, mas soa como novidade porque, nos últimos anos, o governo fixava metas mais justas e, muitas vezes, era obrigado a rever para pior seu resultado.

Dessa vez, observou, o governo exagerou para o outro lado. “Ao que parece, ao anunciar uma meta mais frouxa, ele criou margem para evitar o desgaste político que teria se contingenc­iasse despesas neste momento, quando precisa de votos para a conclusão do processo de impeachmen­t”, afirmou.

“Ao anunciar uma meta mais frouxa, o governo criou margem para evitar o desgaste político que teria se contingenc­iasse despesas neste momento, quando precisa de votos para o impeachmen­t

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