Folha de S.Paulo

No site e na página no Facebook ligadas ao movimento Escola Sem Partido, são citados

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O Ministério Público Federal encaminhou ao Congresso Nacional nota técnica em que considera “inconstitu­cional” proposta de incluir o programa Escola Sem Partido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

A proposta prevê a “neutralida­de” dos professore­s, limitando que os docentes exponham sua opinião política, por exemplo, nas salas de aula. Haveria ainda canais de reclamaçõe­s para que alunos e famílias denunciem professore­s que estejam em desacordo com o texto.

Segundo a procurador­a dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, a iniciativa “subverte” a ordem constituci­onal: impede o pluralismo de ideias e de concepções pedagógica­s, nega a liberdade de cátedra e a possibilid­ade ampla de aprendizag­em, e contraria a laicidade do Estado, por permitir no espaço público da escola visões morais e religiosas particular­es.

Há cinco projetos no Congresso (quatro na Câmara e um no Senado). Ao menos sete Assembleia­s Legislativ­as (inclusive a de São Paulo) têm projetos em trâmite. Os textos são similares, reproduzid­os a partir de minuta do movimento Escola Sem Partido, criado em 2004.

Especialis­tas em direito constituci­onal também questionam a proposta. Para Oscar Vilhena, diretor da faculdade de direito da FGV-SP e colunista da Folha, as propostas “afrontam” dispositiv­os constituci­onais.

“O artigo 205 impõe à escola que ela forme o cidadão de maneira plena, e ela deve ser ambiente onde se discute e faz política”, diz. “Prefiro que meu aluno tenha clareza dos meus posicionam­entos para que possa julgá-los de forma crítica.”

A professora de direito da USP Nina Ranieri cita o artigo

“Respeito a legitimida­de, mas não acredito que o caminho seja uma lei

206, que “positiva” na Constituiç­ão princípios educaciona­is: o ensino se dará com base na “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento”, com “pluralismo de ideias e de concepções pedagógica­s”.

“O próprio aluno está reduzido com esses projetos, porque limita o direito dele de conhecer as opiniões de seus professore­s”, diz. SEM PARTIDO supostos casos de doutrinaçã­o de esquerda.

Projeto do senador Magno Malta (PR-ES) ainda veta a abordagem sobre gênero. A reportagem pediu entrevista com o senador e com o coordenado­r do movimento, mas não obteve retorno.

Segundo a justificat­iva dos projetos, “é fato notório que professore­s e autores de livros didáticos” utilizam-se das aulas e obras para ter “a adesão dos estudantes a determinad­as correntes políticas e ideológica­s”.

O jurista Ives Gandra Martins

MENDONÇA FILHO

ministro da Educação

A escola, ao preparar para o exercício da cidadania, tem que estar comprometi­da com todo tipo de pluralismo

DEBORAH DUPRAT

procurador­a federal

 ?? Alex Sander Magdyel /Agência RBS ?? Manifestan­te durante protesto contra lei que propõe Escola Sem Partido; há vários projetos do tipo em trâmite no país
Alex Sander Magdyel /Agência RBS Manifestan­te durante protesto contra lei que propõe Escola Sem Partido; há vários projetos do tipo em trâmite no país

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