Folha de S.Paulo

Romance mostra impasse moral de jovem

Primeiro livro de ficção de Oscar Pilagallo retrata perda da pureza na transição de personagem para a vida adulta

- MAURÍCIO MEIRELES

Autor, que fez carreira na imprensa, conta que precisou evitar técnicas do texto jornalísti­co para prender o leitor

Para começo de conversa, uma explicação: romance de formação é aquele que mostra a passagem de alguém para a vida adulta, com as implicaçõe­s existencia­is da maturidade. Tudo isso numa narrativa que costuma se desenvolve­r a partir de um conflito que desafia o personagem.

É a essa tradição que se filia “Lua de Vinil”, primeiro romance do jornalista Oscar Pilagallo. Nele, um rapaz chamado Gilberto provoca um grave acidente, que deixa um menino da vizinhança ferido.

Quando os moradores do prédio apontam um outro colega, que já tinha fama de aprontar, Gilberto deixa o amigo levar a culpa. E o romance, voltando para o público infantojuv­enil, se desenvolve a partir desse impasse.

“Queria lidar com a questão do dilema moral. Achei que os jovens seriam o público ideal com quem abordar esse tipo de tema”, afirma Pilagallo.

Não à toa, o autor aponta como uma de suas influência­s “Lorde Jim”, de Joseph Conrad —no livro, um marinheiro abandona um navio que está afundando, o barco não afunda e ele se confronta com a própria covardia.

As questões morais surgem na vida do protagonis­ta e do seu criador, que estudaram em colégios jesuítas. Em dado momento, Gilberto imagina a situação de dois homens atirando cada um em uma criança. Um acerta, o outro erra. Quem é pior do ponto de vista moral?

“Hoje me considero entre agnóstico e ateu, mas essas coisas [da formação religiosa] acabam ficando. Como alguém reage confrontad­o com uma situação assim? O que passa pela cabeça naquele segundo em que se pode ir para um lado ou para o outro?”.

Num livro marcado pela reconstitu­ição histórica dos anos 1970, Pilagallo mostra um personagem com o desamparo juvenil (seu pai está internado em estado grave), por vezes entediado e também vivendo as angústias do primeiro amor.

A “perda da pureza” coincide com a descoberta de que o país vive uma ditadura militar. O amadurecim­ento aparece até no nome dos capítulos: os dois primeiros são apelidos juvenis do personagem, e o último é intitulado “Gilberto”, seu nome de adulto.

Com carreira no jornalismo (o autor teve passagens pela Folha nos anos 1980 e 1990), Pilagallo ganhou um prêmio Jabuti com “História da Imprensa Paulista”, de 2011, publicado pela Três Estrelas (selo editorial do Grupo Folha).

Para escrever ficção, porém, foi preciso desapegar das técnicas do texto jornalísti­co. “Como jornalista, você escreve coisas para um consumo imediato. Ao escrever ficção, a tendência é fazer o mesmo. Precisei encontrar uma voz que fosse mais literária, prender o leitor sem usar técnicas do jornalismo.” AUTOR Oscar Pilagallo EDITORA Seguinte QUANTO R$ 29,90 (168 págs.) LANÇAMENTO Dia 1º/8, às 19h, na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópol­is, av. Higienópol­is, 618, tel. (11) 3660-0230

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Fabio Braga/Folhapress Oscar Pilagallo, que fez carreira no jornalismo antes de estrear na ficção, em seu apartament­o em Higienópol­is, São Paulo

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