Folha de S.Paulo

Grupo japonês investiga os ciclos da Terra

Companhia de dança mais importante de seu país, Sankai Juku se apresenta neste fim de semana em São Paulo

- IARA BIDERMAN

Em ‘Meguri’, coletivo traduz em coreografi­a a evolução de seres vivos, mesclando movimentos dinâmicos e estáticos FOLHA

As luzes da plateia não vão se apagar totalmente no início e no fim de “Meguri”, espetáculo deste fim de semana da temporada de dança do Teatro Alfa, em São Paulo.

A ideia de Amagatsu Ushio, diretor da Sankai Juku, o grupo de dança mais importante do Japão atual, é levar o público a uma transição suave do dia a dia para o espetáculo e de volta à “vida real”.

Esse tempo sem cortes abruptos, parte do processo de trabalho de Amagatsu, é mais forte em “Meguri” —palavra japonesa para rotação, ciclo, tempo circular.

“O mundo, a Terra, os seres estão sempre se movendo, mudando, evoluindo. Essa é a ideia básica do espetáculo”, conta o coreógrafo à Folha.

Uma espécie de ponto de partida para a criação foi uma imagem vista por Amagatsu em um livro: um lírio do mar fossilizad­o.

O coreógrafo ficou fasci-

Grupo Sankai Juku em ‘Meguri’

nado tanto pela ambiguidad­e do ser marinho —um animal com nome de planta que vive no mar profundo desde a Era Paleozoica— quanto pela transforma­ção do ser vivo em “pedra” (palavra usada por Amagatsu, em inglês, para falar do fóssil).

“Esse lírio do mar se formou na época em que os mares e as terras estavam trocando de lugar. Nesse tempo, ele se movia. Depois, virou pedra, fóssil, ficou imóvel”, diz.

A relação entre o dinâmico e o estático conduz o espetáculo. Não por acaso, o subtítulo de “Meguri” é “mar exuberante, terra tranquila”.

Os bailarinos dançam à frente de grandes painéis com as imagens ampliadas dos fósseis de lírios do mar, que parecem mudar de ambiente com a iluminação criada por Amagatsu —conforme a luz, eles passam do meio aquático para o mineral.

“Isso muda o ponto de vista do espectador e do que está acontecend­o no palco”. É a visão do mundo sendo transforma­do por movimentos, sejam os dos corpos, sejam os dos holofotes.

Os ciclos em constante transforma­ção da coreografi­a vão sendo registrado­s no chão do palco do teatro, coberto por uma fina camada de areia, quase uma extensão dos corpos dos oito bailarinos, também cobertos por pó branco.

Na criação do espetáculo, Amagatsu conta ter penado para criar algumas partes da coreografi­a com os bailarinos.

“As pessoas pensam que a origem do movimento está no raciocínio, mas eu precisava de outra energia para mexer esses corpos como se estivessem dentro da água, o que é completame­nte diferente dos movimentos habituais.”

A energia da dança de Amagatsu, que muitas vezes se manifesta em câmara lenta, vem do “diálogo com a gravidade”, síntese do coreógrafo para explicar sua visão do butô. “Dançar é usar a gravidade para fazer arte”, afirma. QUANDO sáb. (23), às 20h, dom. (24), às 18h ONDE Teatro Alfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000 QUANTO de R$ 50 a R$ 180 CLASSIFICA­ÇÃO livre

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