Folha de S.Paulo

Solução é elevar carga tributária, afirmam analistas

- FERNANDA PERRIN

O governo não deve conseguir estancar a dívida pública se não elevar a carga tributária. Um “tarifaço” deve ocorrer após as eleições municipais, apostam analistas.

O Ministério da Fazenda estima que as receitas passem de R$ 1,28 trilhão neste ano para R$ 1,35 trilhão no próximo. Em relação ao PIB, esses números significam queda de 20,8% para 20% —nível insuficien­te para colocar o Orçamento nos trilhos.

A criação de um teto de gastos —ainda pendente de aprovação— só produziria um resultado primário positivo em 2023, e de 0,3% do PIB, de acordo com projeção da consultori­a Tendências.

Mas, se complement­ada por um aumento de receitas de R$ 50 bilhões ao ano, via privatizaç­ões, concessões e aumento de impostos, o primeiro superavit viria em 2019.

A elevação da Cide (imposto sobre combustíve­is) e do PIS/Cofins para alguns setores será necessária, afirma o economista Fabio Klein, da Tendências. O aumento da carga, porém, eleva os custos do setor produtivo, já em crise, e impulsiona a inflação.

Um caminho mais fácil politicame­nte são as concessões e as privatizaç­ões. Um “clima pró-desestatiz­ação” joga a favor da medida, diz Klein, mas o sucesso depende de interesse do setor privado.

Para atraí-lo, a equipe econômica precisa definir regras que garantam segurança jurídica e boas taxas de retorno.

Além disso, as empreiteir­as, às voltas com a Lava Jato, estão com problemas de caixa para entrar nesses projetos, o que deixa o governo dependente de investidor­es estrangeir­os, diz Bráulio Borges, economista da LCA.

Outras receitas em potencial dependem de aprovação do Congresso, caso de novos leilões do pré-sal sem a obrigatori­edade de ter a Petrobras como operadora e da venda de títulos da dívida de empresas e famílias com a União.

Esse processo, chamado de securitiza­ção, pode render até R$ 55 bilhões em receita, segundo Borges. O sucesso da ação, porém, depende do quanto o governo vai conseguir cobrar por esses títulos: se o preço for muito baixo, ele abre mão de uma receita certa que ganharia no futuro. ETAPAS O governo deve atuar em etapas: aprovação do teto de gastos, seguida por privatizaç­ões e securitiza­ções e, com a retomada da atividade econômica, aumento de tributos.

Outra medida em estudo é a antecipaçã­o do pagamento de R$ 90 bilhões da dívida do BNDES com o Tesouro. A equipe econômica avalia a viabilidad­e jurídica da ação.

Mas ela deve ter o maior efeito colateral entre as ações em discussão. Ao reduzir a capacidade de financiame­nto do banco, atinge diretament­e empresas que dependem desses recursos.

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