Folha de S.Paulo

Haddad revolucion­a os usos da cidade

Haddad não se pautou por medidas eleitoreir­as e talvez pague o preço disso. Para além da cegueira ideológica, criou uma cidade de novos valores

- GUILHERME WISNIK www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O Brasil precisa que o PT tenha oposições qualificad­as à esquerda, como a do PSOL. Ao mesmo tempo, é inacreditá­vel que, logo após sofrer um escandalos­o golpe parlamenta­r, os partidos de esquerda no país não consigam se unir minimament­e e que a candidatur­a de Fernando Haddad —a mais progressis­ta que tivemos nas últimas décadas — sofra as consequênc­ias disso.

Refiro-me tanto à digna oposição de Luiza Erundina (PSOL), por um lado, quanto ao factoide Marta Suplicy (PMDB), por outro. Muito longe da esquerda, como se sabe, Marta pessoaliza o capital simbólico dos CEUs (Centros Educaciona­is Unificados) na periferia, ao mesmo tempo em que defende os privilégio­s das mansões dos Jardins e prega o aumento da velocidade dos carros.

Sua estratégia é cínica e oportunist­a: esconde o êxito objetivo da política de Haddad, que diminuiu o trânsito e reduziu expressiva­mente os acidentes na cidade, lançando o falso bordão da “indústria da multa”, que se aproveita do clima de acusações de corrupção contra o PT.

Ocorre que Haddad, ao contrário, é o prefeito que combateu fortemente a corrupção, criando a Controlado­ria Geral do Município, que desmontou a máfia do ISS, recuperand­o mais de R$ 600 milhões desviados, e conseguiu renegociar a dívida (reduzida em R$ 25 bilhões), colocando em ordem as finanças.

Por que isso parece não ser avaliado corretamen­te? É difícil dizer. Vivemos um momento de pouca clareza política em geral, no qual Donald Trump se afirma como o sincero que diz verdades e João Doria (PSDB) posa de trabalhado­r braçal. O poder de convencime­nto só depende do dinheiro disponível.

Mas eis aí uma questão crucial. Haddad mudou profundame­nte a cidade dando as costas àquilo que normalment­e se considera “trabalho”. Assim, está no polo oposto de uma vasta tradição de políticos como Paulo Maluf (PP) mas também Lula e Dilma Rousseff (ambos do PT), para quem progresso significa obras.

Advogado, Haddad produziu ações que não manipulam betoneiras, e sim leis, atuando sobre as formas de uso da cidade. Trata-se de um político de outro tipo, com uma visão urbana estratégic­a e cirúrgica.

Com poucos recursos, criou não apenas faixas exclusivas de ônibus e de bicicletas —abriu avenidas ao uso dos pedestres, criou 150 linhas de ônibus noturnos e 120 praças com wi-fi livre. Significat­ivamente, barrou o suspeitíss­imo túnel da av. Roberto Marinho, o que, infelizmen­te, levou as empreiteir­as envolvidas a suspender importante­s obras na área de habitação social. Ainda assim, duplicou o número de Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) na cidade, por meio do Plano Diretor (notem que eu me concentro aqui em sua política urbana).

É fato que Haddad não se pautou por medidas eleitoreir­as, muito ao contrário, e talvez pague o preço político disso. Mas, para além ou para aquém da cegueira ideológica do momento, produziu uma cidade com novos valores, orientada pelos interesses coletivos e pela ética do compartilh­amento.

Uma cidade com secretaria­s de Direitos Humanos e de Igualdade Racial, em cujo ambiente mais franco e generoso frutificou um belo e improvável Carnaval de rua.

Vivemos, nos últimos anos, significat­ivos progressos com as novas pressões e práticas cidadãs de apropriaçã­o do espaço público no Brasil. No cenário nacional, a Prefeitura de São Paulo é a que melhor está conectada a essas vozes.

Deixaremos essa experiênci­a radical se esvair? Será que a divisão da esquerda, que caminha perigosame­nte para a atomização, afastando-se cada vez mais do governo, é um caminho inteligent­e a seguir? GUILHERME WISNIK,

Folha.

Podem tirar Moraes do Ministério da Justiça, mas a (suspeita de) indiscriçã­o irá permanecer. Mesmo que, hipotetica­mente, a situação possa ser mera coincidênc­ia, assemelha-se ao caso da mulher de César. Não adianta ser honesto, tem que parecer honesto. Foi um episódio lamentável.

ULYSSES FERNANDES NUNES JR.

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, pode e deve monitorar a Polícia Federal, sua subordinad­a, e esse fato não é irregular. Ações conjuntas e elaboração de estratégia­s entre chefes e subordinad­os são procedimen­tos absolutame­nte normais e produtivos.

MAURÍLIO POLIZELLO JÚNIOR

É lamentável a tentativa da oposição de atacar o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, vinculando a Lava Jato a uma ação política. Em vez de acusar pessoas sérias e ações efetivas contra a corrupção, deveriam os petistas e aliados explicar as inúmeras suspeitas de corrupção que pairam sobre seus membros, muitos deles presos e já condenados. Usam subterfúgi­os para desviar a atenção de mais um escândalo envolvendo um petista de alto escalão. Enquanto isso, o Brasil espera uma explicação.

PEDRO TOBIAS,

Golpe de mestre: o governo Temer não conseguiu acabar com a Lava Jato, mas fez muito melhor. A operação continua funcionand­o, mas só contra o PT!

EVALDO G. BARCELLOS

O juiz Sergio Moro está promovendo uma limpeza no grupo político-marginal, em sintonia com a vontade do povo, cansado de ser ludibriado por ideologias de esquerda. Deveria ter apoio total de todos os brasileiro­s, no entanto o que se vê é uma saraivada de críticas de falsos intelectua­is e da imprensa comprometi­da. Deviam agradecer ao juiz por enfrentar os poderosos, a elite criminosa que governava o Brasil.

SEBASTIÃO CASTRO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

A reportagem “Desoneraçã­o vira alvo da Receita e pode gerar R$ 15 bi” (“Mercado”, 26/9) tem perfeita coesão com os anseios da sociedade. Em vez de tributar todos de forma geral, o poder público fere a arrecadaçã­o ao não recolher determinad­os impostos de grandes empresas. Esse ajuste tributário irá regular a competitiv­idade de mercado e ainda amenizar as disparidad­es do setor de bebidas.

FERNANDO RODRIGUES DE BAIRROS, Brasil (Afrebras) (Curitiba, PR)

Colunistas O ator Yul Brynner foi lembrado na coluna de Mario Sergio Conti, quando este comenta as trapalhada­s de Alexandre de Moraes (“Quero ser John Malkovich”, “Poder”, 27/9), mas foi esquecido nos dois artigos sobre “Westworld”, série que retoma o filme homônimo e que foi protagoniz­ado pelo ator em 1973 (“‘Westworld’ questiona violência humana” e “Com ótimas referência­s, bela ideia sofre ao espremer premissas no 1º capítulo”, “Ilustrada”, 27/9).

DORIVALDO SALLES DE OLIVEIRA

Em “Injustiça Terapêutic­a” (“Opinião”, 25/9), Hélio Schwartsma­n debate ações judiciais que oferecem atendiment­o a quem pratica delitos e abusa de álcool e outras drogas. A Justiça terapêutic­a não impõe tratamento, mas pode-se firmar acordo para sessão terapêutic­a. Cuidar dessas pessoas deve ser prioridade. A sociedade, incluindo a Justiça, sabe que “drogas existem e destroem a vida de uma fração de pessoas que as experiment­am”, como diz o colunista. Por isso, aborda a questão no limite da lei e do bom senso.

MARIO SERGIO SOBRINHO,

Painel As ilustraçõe­s do Painel são sempre perspicaze­s, inteligent­es, bem traçadas. Atrevo-me a sugerir que aumentem de tamanho. Afinariam, assim, a sintonia com a impagável espirituos­idade da editora Natuza Nery na elaboração dos tópicos da seção. Cereja do bolo.

FERNANDO A. ASSIS LEMOS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil