Haddad revoluciona os usos da cidade
Haddad não se pautou por medidas eleitoreiras e talvez pague o preço disso. Para além da cegueira ideológica, criou uma cidade de novos valores
O Brasil precisa que o PT tenha oposições qualificadas à esquerda, como a do PSOL. Ao mesmo tempo, é inacreditável que, logo após sofrer um escandaloso golpe parlamentar, os partidos de esquerda no país não consigam se unir minimamente e que a candidatura de Fernando Haddad —a mais progressista que tivemos nas últimas décadas — sofra as consequências disso.
Refiro-me tanto à digna oposição de Luiza Erundina (PSOL), por um lado, quanto ao factoide Marta Suplicy (PMDB), por outro. Muito longe da esquerda, como se sabe, Marta pessoaliza o capital simbólico dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) na periferia, ao mesmo tempo em que defende os privilégios das mansões dos Jardins e prega o aumento da velocidade dos carros.
Sua estratégia é cínica e oportunista: esconde o êxito objetivo da política de Haddad, que diminuiu o trânsito e reduziu expressivamente os acidentes na cidade, lançando o falso bordão da “indústria da multa”, que se aproveita do clima de acusações de corrupção contra o PT.
Ocorre que Haddad, ao contrário, é o prefeito que combateu fortemente a corrupção, criando a Controladoria Geral do Município, que desmontou a máfia do ISS, recuperando mais de R$ 600 milhões desviados, e conseguiu renegociar a dívida (reduzida em R$ 25 bilhões), colocando em ordem as finanças.
Por que isso parece não ser avaliado corretamente? É difícil dizer. Vivemos um momento de pouca clareza política em geral, no qual Donald Trump se afirma como o sincero que diz verdades e João Doria (PSDB) posa de trabalhador braçal. O poder de convencimento só depende do dinheiro disponível.
Mas eis aí uma questão crucial. Haddad mudou profundamente a cidade dando as costas àquilo que normalmente se considera “trabalho”. Assim, está no polo oposto de uma vasta tradição de políticos como Paulo Maluf (PP) mas também Lula e Dilma Rousseff (ambos do PT), para quem progresso significa obras.
Advogado, Haddad produziu ações que não manipulam betoneiras, e sim leis, atuando sobre as formas de uso da cidade. Trata-se de um político de outro tipo, com uma visão urbana estratégica e cirúrgica.
Com poucos recursos, criou não apenas faixas exclusivas de ônibus e de bicicletas —abriu avenidas ao uso dos pedestres, criou 150 linhas de ônibus noturnos e 120 praças com wi-fi livre. Significativamente, barrou o suspeitíssimo túnel da av. Roberto Marinho, o que, infelizmente, levou as empreiteiras envolvidas a suspender importantes obras na área de habitação social. Ainda assim, duplicou o número de Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) na cidade, por meio do Plano Diretor (notem que eu me concentro aqui em sua política urbana).
É fato que Haddad não se pautou por medidas eleitoreiras, muito ao contrário, e talvez pague o preço político disso. Mas, para além ou para aquém da cegueira ideológica do momento, produziu uma cidade com novos valores, orientada pelos interesses coletivos e pela ética do compartilhamento.
Uma cidade com secretarias de Direitos Humanos e de Igualdade Racial, em cujo ambiente mais franco e generoso frutificou um belo e improvável Carnaval de rua.
Vivemos, nos últimos anos, significativos progressos com as novas pressões e práticas cidadãs de apropriação do espaço público no Brasil. No cenário nacional, a Prefeitura de São Paulo é a que melhor está conectada a essas vozes.
Deixaremos essa experiência radical se esvair? Será que a divisão da esquerda, que caminha perigosamente para a atomização, afastando-se cada vez mais do governo, é um caminho inteligente a seguir? GUILHERME WISNIK,
Folha.
Podem tirar Moraes do Ministério da Justiça, mas a (suspeita de) indiscrição irá permanecer. Mesmo que, hipoteticamente, a situação possa ser mera coincidência, assemelha-se ao caso da mulher de César. Não adianta ser honesto, tem que parecer honesto. Foi um episódio lamentável.
ULYSSES FERNANDES NUNES JR.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, pode e deve monitorar a Polícia Federal, sua subordinada, e esse fato não é irregular. Ações conjuntas e elaboração de estratégias entre chefes e subordinados são procedimentos absolutamente normais e produtivos.
MAURÍLIO POLIZELLO JÚNIOR
É lamentável a tentativa da oposição de atacar o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, vinculando a Lava Jato a uma ação política. Em vez de acusar pessoas sérias e ações efetivas contra a corrupção, deveriam os petistas e aliados explicar as inúmeras suspeitas de corrupção que pairam sobre seus membros, muitos deles presos e já condenados. Usam subterfúgios para desviar a atenção de mais um escândalo envolvendo um petista de alto escalão. Enquanto isso, o Brasil espera uma explicação.
PEDRO TOBIAS,
Golpe de mestre: o governo Temer não conseguiu acabar com a Lava Jato, mas fez muito melhor. A operação continua funcionando, mas só contra o PT!
EVALDO G. BARCELLOS
O juiz Sergio Moro está promovendo uma limpeza no grupo político-marginal, em sintonia com a vontade do povo, cansado de ser ludibriado por ideologias de esquerda. Deveria ter apoio total de todos os brasileiros, no entanto o que se vê é uma saraivada de críticas de falsos intelectuais e da imprensa comprometida. Deviam agradecer ao juiz por enfrentar os poderosos, a elite criminosa que governava o Brasil.
SEBASTIÃO CASTRO
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A reportagem “Desoneração vira alvo da Receita e pode gerar R$ 15 bi” (“Mercado”, 26/9) tem perfeita coesão com os anseios da sociedade. Em vez de tributar todos de forma geral, o poder público fere a arrecadação ao não recolher determinados impostos de grandes empresas. Esse ajuste tributário irá regular a competitividade de mercado e ainda amenizar as disparidades do setor de bebidas.
FERNANDO RODRIGUES DE BAIRROS, Brasil (Afrebras) (Curitiba, PR)
Colunistas O ator Yul Brynner foi lembrado na coluna de Mario Sergio Conti, quando este comenta as trapalhadas de Alexandre de Moraes (“Quero ser John Malkovich”, “Poder”, 27/9), mas foi esquecido nos dois artigos sobre “Westworld”, série que retoma o filme homônimo e que foi protagonizado pelo ator em 1973 (“‘Westworld’ questiona violência humana” e “Com ótimas referências, bela ideia sofre ao espremer premissas no 1º capítulo”, “Ilustrada”, 27/9).
DORIVALDO SALLES DE OLIVEIRA
Em “Injustiça Terapêutica” (“Opinião”, 25/9), Hélio Schwartsman debate ações judiciais que oferecem atendimento a quem pratica delitos e abusa de álcool e outras drogas. A Justiça terapêutica não impõe tratamento, mas pode-se firmar acordo para sessão terapêutica. Cuidar dessas pessoas deve ser prioridade. A sociedade, incluindo a Justiça, sabe que “drogas existem e destroem a vida de uma fração de pessoas que as experimentam”, como diz o colunista. Por isso, aborda a questão no limite da lei e do bom senso.
MARIO SERGIO SOBRINHO,
Painel As ilustrações do Painel são sempre perspicazes, inteligentes, bem traçadas. Atrevo-me a sugerir que aumentem de tamanho. Afinariam, assim, a sintonia com a impagável espirituosidade da editora Natuza Nery na elaboração dos tópicos da seção. Cereja do bolo.
FERNANDO A. ASSIS LEMOS