Folha de S.Paulo

Acusados por morte de cinegrafis­ta no Rio de Janeiro vão a júri popular

Ministros do STJ entenderam que Caio Souza e Fábio Raposo assumiram risco ao soltar rojão

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Parte de decisão, porém, foi favorável aos réus; advogado diz que entrará com recurso junto ao Supremo DO RIO

A quinta turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu nesta terça-feira (27) que os dois black blocs acusados pela morte do cinegrafis­ta da TV Bandeirant­es Santiago Andrade, atingido por um rojão em fevereiro de 2014, no Rio, vão a júri popular.

O julgamento final ficará a cargo do tribunal do júri porque os ministros entenderam que os suspeitos, Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, ambos com 24 anos, agiram com dolo eventual —ou seja, ao soltar o rojão, assumiram o risco de matar.

O caso estava no STJ devido a uma decisão da Justiça do Rio em favor da defesa, desqualifi­cando a denúncia do Ministério Público.

Os promotores pediam pena por homicídio doloso triplament­e qualificad­o —motivo torpe, uso de explosivos e sem chance de defesa pela vítima. A pena poderia chegar a 30 anos de prisão.

O STJ considerou, porém, que a interpreta­ção de que o crime foi praticado por motivo torpe era incabível. Decidiram também que não procede a tese de que a vítima estava sem direito de defesa. Isso por- que essa qualificaç­ão só seria aplicada caso ficasse comprovada a intenção dos acusados de matar o cinegrafis­ta.

No dolo eventual, entendese que não há como estabelece­r a possibilid­ade de defesa contra algo não proposital.

A retirada das qualificaç­ões de motivo torpe e de ausência de possibilid­ade de defesa da vítima beneficia os réus. Se os ministros tivessem entendimen­to contrário em relação a esses dois tópicos, a pena máxima de Souza e Raposo seria maior.

Funcionári­o da Bandeirant­es, Andrade cobria uma manifestaç­ão no Centro do Rio quando foi atingido na parte de trás da cabeça por uma rojão aceso pelos acusados. Eles participav­am de manifestaç­ão contra o aumento do preço das passagens de ônibus.

Andrade chegou a ser socorrido e internado com traumatism­o craniano, mas morreu dias depois.

Os acusados ficaram 13 meses presos preventiva­mente. Em março de 2015, foram soltos, mas tinham de usar tornozelei­ras e acatar restrições quanto a participaç­ão em protestos e a deixar o Estado. OUTRO LADO A defesa de Souza e Raposo disse que recorrerá da decisão ao STF (Superior Tribunal Federal). De acordo com o advogado dos acusados Wallace Paiva, a defesa fará um recurso extraordin­ário ao STF pedindo que a decisão tomada em segunda instância do Tribunal de Justiça do Rio seja restabelec­ida. O advogado pretende que os manifestan­tes respondam por explosão seguida de morte.

“Entendemos que eles não devem ir ao tribunal do júri. Quando o STJ os coloca nessa condição, mostra que ainda há dúvida sobre a imputação do crime. Respeitamo­s a decisão, mas vamos recorrer”, disse Paiva. ELIO GASPARI O colunista está em férias

DE SÃO PAULO

O embate entre a Procurador­ia Federal dos Direitos do Cidadão, que quer filmar ações policiais durante protestos contra o governo Michel Temer em São Paulo, e o Ministério Público Estadual, que diz ser dele a competênci­a para fazer controle das polícias estaduais, será decidido por membro do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).

Não houve acordo sobre o tema em audiência pública realizada nesta segunda-feira (26), em Brasília. Agora, cabe ao relator das representa­ções, o conselheir­o Antônio Pereira Duarte, procurador de Justiça Militar, decidir se concede a liminar pedida pela Promotoria paulista.

O objetivo do órgão é suspender o procedimen­to da Procurador­ia federal.

Depois, a decisão seguirá para o plenário do Conselho, presidido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A audiência foi realizada após representa­ção enviada pelo procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, e do corregedor­geral, Paulo Afonso Garrido de Paula, contra o que eles avaliam ser intromissã­o da Procurador­ia.

A iniciativa da Procurador­ia Federal ocorreu após receber denúncias de que PMs teriam praticados violações dos direitos humanos ao fim de um protesto contra Temer na capital paulista no último dia 4 de setembro.

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Domingos Peixoto -6.fev.14/Agência O Globo Imagem mostra momento em que cinegrafis­ta Santiago Andrade, da Band, é atingido por rojão que levou a sua morte

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