Miss humilhada por Trump vira tema de embate nos EUA
DO “NEW YORK TIMES”
Por 20 anos, Alicia Machado viveu com a agonia do que Donald Trump lhe fez pouco depois de ela ter conquistado o título de Miss Universo, em 1996: humilhações públicas por ela ter ganhado peso.
Trump, na época produtorexecutivo do concurso, insistiu em levar Alicia, então adolescente, a uma academia de ginástica, onde dezenas de repórteres e fotógrafos acompanharam seus exercícios.
Trump posou para fotos ao lado de Alicia enquanto ela queimava calorias diante das câmeras. “Eis uma pessoa que gosta de comer”, disse.
Na noite de segunda-feira, Hillary Clinton transformou a dor de Alicia em uma poderosa arma política.
Alicia, que cresceu na Venezuela, diz que jamais se recuperou plenamente da experiência. “Adoeci, sofri de bulimia e anorexia por cinco anos”, disse em entrevista ao “New York Times” em maio. “Tinha 18 anos. Minha personalidade não havia sido criada ainda. Era uma menina.”
Trump reconheceu que a pressionou para que perdesse peso, afirmando que era função dela, como Miss Universo, manter-se em forma.
Na manhã de terça (27), ele não se desculpou por isso. “Ela ganhou muito peso, e isso se tornou um problema”, disse Trump à Fox News.
No debate, Hillary lembrou as declarações frequentemente grosseiras de Trump sobre as mulheres.
“Uma das piores coisas que ele disse foi sobre uma mulher num concurso de beleza. Ele ama concurso de beleza”, disse. “Ele a chamou de Miss Piggy. E depois a chamou de Miss Doméstica, por ser latina”.
“Donald, ela tem nome. Seu nome é Alicia Machado”.
Trump, claramente furioso, interrompeu. “Onde você encontrou isso?”
Hillary concluiu, de olho na eleição: “Ela se tornou cidadã dos EUA, e pode apostar que votará em novembro”.
Alicia se tornou partidária entusiástica de Hillary. Protagonizou comercial de campanha no qual critica Trump.
A cicatriz permanece, diz ela. “Nos últimos 20 anos recorri a muitos psicólogos para combater esse problema.”
PAULO MIGLIACCI